Título: Governo e oposição temem o poder do baixo clero
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2005, Nacional, p. A6

Encarada de início como ousadia destinada ao fracasso, a candidatura de Ciro Nogueira (PP-PI) à presidência da Câmara já preocupa governo e oposição. Herdeiro político do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), Ciro encarna o papel de porta-voz do chamado baixo clero parlamentar e ameaça reunir votos de um significativo bloco silencioso de deputados.

"Nem eu sabia que tinha tanta força assim", reagiu ele, diante das pressões do Planalto para esvaziar sua candidatura e fortalecer a de Aldo Rebelo. Ele sonha em repetir o desempenho do padrinho - que em fevereiro contrariou prognósticos, foi para o segundo turno e se elegeu presidente da Câmara.

Corregedor-geral e segundo vice-presidente da Casa, Ciro passou o dia fazendo contatos políticos para tentar neutralizar os esforços do governo. O Planalto dividiu o PL - a liderança vai dar apoio a Aldo em detrimento de João Caldas (PL-AL) - e obteve de Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP) o compromisso de apoiar o comunista no eventual segundo turno.

"Tem de ver se a bancada do PL vai acompanhar a decisão da cúpula", reagiu Ciro. "O palácio não pode esquecer que o voto é secreto. Não sou e nunca fui candidato de cúpula." Ele procurou mostrar confiança: "O Planalto pode usar mundos e fundos, mas não vai conseguir vencer a disputa."

Caldas reclamou do jogo pesado do governo para obter o apoio do PL. À saída da reunião de sua bancada, disse que tinha firmado compromisso com Ciro, Fleury e Michel Temer (PMDB-SP), de união num segundo turno. "Vamos ver. Se for preciso, renuncio", afirmou, admitindo que pode retirar sua candidatura hoje para apoiar Ciro. A retirada é possível até uma hora antes da sessão, marcada para as 10 horas.

"O PL é parte da base do governo e, por isso, decidiu fechar com o Aldo", explicou Caldas, dizendo não saber o que o Planalto ofereceu ao partido. Ontem, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o líder do partido na Câmara, Sandro Mabel (GO), reuniram-se com o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais). Mais tarde, Aldo conversou com Inocêncio Oliveira (PL-PE), um dos principais defensores de Aldo, e o ministro dos Transportes, Anderson Adauto (PL-MG).