Título: Na surdina, Severino comanda articulação para eleger Ciro Nogueira
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2005, Nacional, p. A6

O ex-presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti (PP-PE) renunciou, deixou a mansão oficial, mas ainda não abandonou os vícios do cargo que exercia. Mesmo sendo o primeiro presidente a renunciar na história da Câmara, Severino resolveu fazer campanha para o seu xodó, o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), a quem chama de filho. E a sua primeira missão foi a de tentar convencer o deputado Francisco Dornelles (PP-RJ) a renunciar em benefício de seu apadrinhado. "Ele e o Dornelles sempre se deram muito bem", confidenciou um assessor. Vestindo calça social e camisa de linho, Severino transformou o apartamento em uma das superquadras de Brasília em comando avançado de sua sucessão. Na condição de cabo eleitoral, utilizou dois telefones e respondeu a dezenas de telefonemas de deputados. Em apenas duas horas foram mais de 36 chamadas. Perdeu o mandato, mas não o título majestático de rei do baixo clero.

"Severino, estou ligando para saber como votar? Quem é o nosso candidato?", perguntavam os deputados do baixo clero, aquele grupo de parlamentares de pouca expressão na Câmara. Ciro era a resposta. E, como velho conhecedor das manobras políticas, ainda lembrava que as candidatura de Luiz Antônio FleuryFilho, do PTB, e de João Caldas, do PL, não eram para valer. Eles retirariam seus nomes no momento certo para fortalecer Ciro.

Tanta movimentação acabou suspendendo os dias de ostracismo do velho coronel da política que deseja fazer de Ciro Nogueira seu sucessor. "O Ciro aprendeu as manhas de Severino e as tornou mais sofisticadas. É legítimo sucessor", avaliou o assessor.

A pedido do ex-presidente, os deputados Léo Alcântara e Robson Tuma, ambos do PFL, estariam cabalando votos para a candidatura Ciro. Eles também trabalharam duro há sete meses, quando elegeram Severino para a presidência.

Severino está como pinto no lixo. Na segunda, recebeu deputados até a meia noite. Entre eles, o próprio Fleury.