Título: Atropelado pelo Planalto, Temer acena para Nonô
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2005, Nacional, p. A6

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), registrou sua candidatura à presidência da Câmara, mas não descartou a possibilidade de renunciar hoje à corrida sucessória em favor do primeiro vice-presidente da Casa, José Thomaz Nonô (PFL-AL). Segundo um importante articulador da campanha de Temer, não foi à toa que ele e o pefelista registraram em dupla suas candidaturas, ontem à tarde. Além de trocarem elogios e um abraço caloroso, acertaram, aos cochichos, uma nova conversa sobre sucessão. Temer passou o dia em campanha, na tentativa de costurar uma candidatura de consenso com o PL, o PP e o PTB. No encontro que tivera com o candidato do PTB, Luiz Antonio Fleury Filho (SP), no fim da noite de segunda-feira, o próprio petebista acenara com o desejo de aliar-se a ele, incomodado com a vinculação de seu nome a uma candidatura dos partidos do mensalão. Mas a articulação foi atropelada pela ofensiva do Palácio do Planalto sobre o PTB e o PL, em favor de seu candidato, Aldo Rebelo (PC do B-SP).

Ainda de manhã, Temer foi informado de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamara Fleury para um café da manhã. "O governo entrou claramente na campanha, está trabalhando e isso fez com que a candidatura do Aldo crescesse", resumiu Fleury. Mas a cúpula do PMDB está convencida de que o petebista está "prestando serviço" ao governo quando mantém sua candidatura e impede que os seus votos migrem para Ciro Nogueira (PP-PI).

COSTA NETO

Passava pouco das 13h30h quando Michel Temer recebeu outra má notícia. A "simpatia" do PL por sua candidatura, declarada pelo presidente da legenda Valdemar Costa Neto, sofrera um revés. Foi o que o próprio Costa Neto informou, por telefone. "Quero ser leal com você, até porque eu havia lhe falado da inclinação do PL pelo seu nome," disse. "O Palácio nos chamou (ele e o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia) e decidimos ficar com o Aldo. O governo está pressionando demais."

Ao ser informado por Temer, o candidato oficial do PL ao comando da Câmara, João Caldas (MG), revoltou-se. "O governo vive com esse discurso de que não tem dinheiro, mas na hora da eleição aparece", protestou. "Depois do mensalão vem o emendão", completou Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).

A essa altura, peemedebistas mais próximos de Temer já não escondiam a preocupação com a falta de densidade da candidatura, que poderia expor o presidente do partido a um vexame político. Até integrantes da ala que já havia prometido voto a Rebelo no segundo turno aconselhavam Temer a apressar as negociações com Nonô, incluindo a primeira vice-presidência, que seria do PMDB.

A única boa notícia para Temer veio dos evangélicos. Convidado pela frente parlamentar evangélica a apresentar a candidatura, teve boa acolhida.