Título: Sócio de Valério diz que Mentor recebeu recursos do publicitário
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2005, Nacional, p. A8

Em depoimento à sub-relatoria de movimentações financeiras da CPI dos Correios, o advogado Rogério Tolentino, que é sócio de Marcos Valério Fernandes de Souza na Tolentino e Melo Associados, disse que o escritório do deputado José Mentor (PT-SP) recebeu R$ 120 mil da 2S Participações, empresa de Marcos Valério e de sua mulher Renilda Santiago. Mentor vem baseando sua defesa na alegação de que o pagamento foi feito pelo escritório de Tolentino. "É certo que o deputado Mentor recebeu R$ 120 mil do Marcos Valério. O que ele falar fora disso é mentira. A Tolentino e Melo não foi tomadora de nenhum serviço do Mentor", afirmou o advogado. Tolentino também disse ainda que só comprou o apartamento de Maria Ângela Saragoça, no final de 2003, porque sabia que ela era ex-mulher do então ministro José Dirceu. Afirmou que comprou o apartamento da ex-mulher de Dirceu a pedido de Ivan Guimarães, ex- presidente do Banco Popular do Brasil.

Para o sub-relator de movimentação financeira da CPI dos Correios, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), as afirmações de Tolentino são graves. "Ficou claro o tráfico de influência quando o Tolentino diz que sabia que o apartamento era de uma ex-mulher do José Dirceu", disse Fruet. "Ficou também muito ruim para o Mentor porque o Tolentino desconstruiu a versão que vinha sendo dada pelo deputado sobre os R$ 120 mil."

No depoimento, Tolentino contou que Mentor o procurou duas vezes na semana passada, em Belo Horizonte, para tentar comprovar que havia prestado serviço para a Tolentino e Melo e não para a empresa de Valério. Como prova da prestação de serviços, o petista apresentou duas notas fiscais - cada uma no valor de R$ 60 mil e datadas de junho de 2004 -, nas quais seu escritório de advocacia enviou à consultoria de Tolentino. Mas, segundo Rogério Tolentino, essas notas não foram aceitas por seu escritório sob o argumento de que o serviço não foi prestado para ele e sim para a 2S Participações.

Sobre o apartamento da ex-mulher de Dirceu, Tolentino contou que soube da venda do apartamento por Ivan na sede do PT, em São Paulo. "Me foi solicitado que eu comprasse o apartamento dentro do contexto de que eu estaria dando uma mãozinha. É claro que está embutido que a transação estaria nos ajudando", observou.

O advogado também confirmou que pegou R$ 10 milhões emprestados, em 26 de abril de 2004, no BMG a pedido de Valério. "O Marcos Valério não me disse que o empréstimo era para o PT. Mas logo depois eu soube que o dinheiro ia para o partido", disse. "O PT diz que esses empréstimos são de responsabilidade apenas do Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT). Mas o PT utilizou os valores para pagar débitos de seus diretórios. Isso é, no mínimo, enriquecimento sem causa", argumentou.