Título: Em tese, aperto pode aumentar
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

Meta de superávit primário subiria com a mudança

O governo acompanha com atenção as discussões em torno da mudança de metodologia de cálculo do Produto Interno Bruto, que está sendo feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. "Não podemos ser pegos de surpresa", disse o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. A preocupação do governo é saber as repercussões que a mudança terá sobre alguns importantes indicadores econômicos, entre eles a meta para o superávit primário do setor público. "Com certeza vai resultar num porcentual diferente (para a meta)", observou. Atualmente, a meta de superávit primário (economia feita pelo setor público para pagar uma parcela dos juros das dívidas públicas) é de 4,25% do PIB para este ano. Como o valor do PIB projetado para 2005 é de R$ 1,946 trilhão, o superávit mínimo deve ser, portanto, de R$ 82,7 bilhões. Se, depois da revisão do IBGE, o valor do PIB ficar em R$ 2,1 bilhões, por exemplo, os 4,25% vão equivaler a R$ 89,2 bilhões - ou seja, a mudança metodológica obrigaria o governo, nesta hipótese, a elevar sua economia em R$ 6,5 bilhões.

Em outras palavras: o aperto fiscal teria de aumentar substancialmente para que o porcentual de 4,25% do PIB fosse mantido.

Mas haverá vantagens também. Se a mudança implicar elevação substancial do valor do PIB, a relação entre a dívida pública e o PIB cairá. Essa queda resultaria unicamente também da mudança metodológica.

Bernardo disse que o governo não está interferindo e nem participando diretamente dessas discussões.

"O IBGE está fazendo as mudanças por razões técnicas e nós não sabemos os detalhes dessas alterações", observou. "Eles estão fazendo a mudança baseados na avaliação de que a fórmula atual está superada e que precisa ser modernizada para que o valor do PIB fique mais próximo da realidade".

A intenção do instituto, segundo o ministro, é refazer a série histórica do Produto Interno Bruto nos últimos dez anos.