Título: 'É preciso corrigir os rumos agora', defende Pont
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2005, Nacional, p. A9

Deputado estadual e ex-prefeito de Porto Alegre, Raul Pont, da Democracia Socialista, cobra autonomia do PT em relação ao governo. Principalmente porque não foi colocado em prática o programa da campanha, aprovado pelo partido em 2001. "É preciso corrigir rumos agora", defende Pont, reivindicando o direito à crítica. "Isso não é desestabilizar o governo." Por que votar no senhor na eleição interna, não em Ricardo Berzoini?

Ele representa hoje a continuidade de um Campo Majoritário que sobrevive, ainda tem força, mas foi responsável politicamente pelas orientações equivocadas que provocaram a crise. O Campo se rendeu ao pragmatismo eleitoral. As provas são as políticas de aliança sem critério e a submissão ao senso comum - o neoliberalismo reinante. Não há nenhuma ousadia, ruptura, quebra de paradigma porque "o mercado pode ficar raivoso". Então, essa invisibilidade da ordem passa a ser o norte político. Para um partido como o nosso, isso é suicídio.

Qual deve ser a posição do PT em relação ao governo Lula?

No quadro atual, um governo de coalizão com forças de centro e direita, a nossa relação deve ser de simultâneo apoio e autonomia. O partido não pode ter uma postura de defesa incondicional. Temos de manter nossa independência e tudo aquilo que entendermos que se deve criticar no governo. Isso não é desestabilizá-lo, é nosso papel como partido.

Como nenhuma corrente terá maioria, o presidente do PT não poderá virar uma rainha da Inglaterra, sem administrar realmente o partido?

A nossa origem sempre coexistiu com o direito de tendência. O pluralismo é virtude, não defeito. Queremos que o Diretório seja a expressão disso e deixe de ser o que vinha sendo - órgão homologador de uma parte do partido. O pluralismo vai nos obrigar a ouvir uns aos outros, a tirar posições consensuais.

Se Lula disputar a reeleição, o programa precisa ser diferente?

O programa de 2002, nós votamos. Éramos críticos, tivemos emendas aprovadas, mas foi aprovado no Congresso do Recife em 2001 e era fruto do esforço coletivo do partido. Mas não praticamos o que aprovamos, essa é a raiz das nossas divergências com o governo. O que se aplicou foi uma declaração do meio da campanha, a "Carta ao Povo Brasileiro", que para muitos passou como texto tático eleitoral para acalmar mercados. Nosso programa era "Ruptura Necessária".

Se Lula não cumpriu o programa, que garantia vocês terão para um novo mandato?

Queremos essa discussão. Se o Lula for para as eleições com o programa de hoje, seremos derrotados. A população não terá razões para votar mais uma vez num projeto de estabilidade monetária e transferência de recursos para o capital financeiro.