Título: Campo Majoritário encolhe no PT
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2005, Nacional, p. A9

Quatro deputados que anunciaram a saída do partido e a possível migração para o PSOL fizeram as contas e desisitiram. Walter Pinheiro (BA), Nazareno Fonteles (PI), Mauro Passos (SC) e Doutor Rosinha (PR) acharam a alternativa - o PSOL - difícil de administrar. Ontem, já davam como certa a permanência no partido.

O quinto deputado, Paulo Rubem Santiago (PE), ainda não conseguiu definir se sai ou fica no PT. A decisão deve ficar para hoje. Santiago classifica o PSOL como uma "incógnita programática" e ainda espera que a esquerda consiga espaço dentro do partido para eleger Raul Pont para a presidência e discutir mudanças no programa do PT. "Estamos analisando tudo isso e quero ver se vamos ter força para fazer essas mudanças. Espero decidir até amanhã ao meio-dia. Mas é uma decisão muito difícil", disse.

"Acho que para ir para o PSOL e ficar divergindo lá é melhor divergir no PT", disse Pinheiro, explicando que tem muitas diferenças de postura com o partido da senadora Heloísa Helena (AL) e dos deputados Luciana Genro (RS) e Babá (PA). Os que decidiram ficar afirmam que vão ficar "em dissidência" - ou seja, não necessariamente vão votar de acordo com a orientação do governo.

O tamanho do partido também pesou na decisão dos deputados. Tanto Fonteles quanto Pinheiro ouviram das suas bases que não deveriam sair do partido. Pinheiro é o parlamentar com mais votos na Bahia. No PSOL, poderia ter dificuldades.

Mesmo assim os deputados federais Maninha (DF), Chico Alencar (RJ) e Ivan Valente (SP) anunciaram ontem sua desfiliação do PT e a transferência para o PSOL, o partido fundado pelos parlamentares petistas expulsos em dezembro de 2003. Os três se unem a João Alfredo e Orlando Fantazzini, que já haviam anunciado a saída no final de semana e diminuem ainda mais a bancada do PT, agora composta de 84 deputados.

"Essa é a decisão mais difícil da minha vida", confessou Chico Alencar. "Estou saindo do PT para continuar petista, imagina a ironia".

Os três deputados ficam os próximos dois dias sem partido, mas assinam a filiação no PSOL na sexta-feira, último prazo para que possam concorrer no ano que vem. "É um pouco como um casamento. Continuamos apaixonados, mas as brigas são tão freqüentes que a separação se torna inevitável", disse Maninha.

Os que saíram certamente terão problemas para se eleger. Ivan Valente teve 110 mil votos na última eleição em São Paulo, mas foi ajudado pela quantidade de votos do PT. Um deputado, para ser eleito por si só no Estado precisa de 300 mil votos. "Sabemos que vai ser difícil, mas pelo menos ninguém pode nos acusar de oportunismo eleitoral", disse Valente.

Os novo parlamentares do PSOL também poderão ter dificuldades no novo partido - agora com uma bancada de sete deputados. Os novos integrantes defendem uma postura crítica do governo, mas não querem que o PT se transforme no "inimigo número um", uma posição contrária a que hoje tem os deputados do PSol, que foram expulsos do PT. "Vamos ter uma postura crítica, mas também não podemos nos colocar como uma força auxiliar da direita", disse Valente.

A filiação, segundo o deputado, é "democrática". Os novos parlamentares não pretendem sair de cara controlando o partido, apesar de, com suas bases, já terem maioria dentro do PSOL. Mas, ao mesmo tempo, não precisam seguir a votação da bancada. Pelo menos por enquanto.