Título: Estudo mostra efeitos da política de metas para inflação
Autor: Rita Tavares
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

Países que adotaram o regime tiveram melhor desempenho contra alta de preços e no crescimento econômico

Os países emergentes que adotaram o sistema de metas inflacionárias conseguiram reduzir mais a inflação e, ao mesmo tempo tiveram menor volatilidade do crescimento econômico do que os países que não seguem essa política. A conclusão é de um estudo do professor Carlos Eduardo Soares Gonçalves, da Universidade de São Paulo (USP), que comparou o desempenho de 35 países emergentes, dos quais 11 seguem metas inflacionárias. O Brasil adotou o regime em junho de 1999. Apesar dos bons resultados, Gonçalves acredita que o sistema brasileiro precisa de "um pouco mais de flexibilidade". O deputado federal e ex-ministro Delfim Netto (PMDB-SP) e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que debateram os resultados da pesquisa ontem na USP, apóiam alguns ajustes. Mercadante defendeu, por exemplo, a adoção de cláusulas de escape, enquanto Delfim entende que a meta não deveria seguir um índice de inflação cheio.

Para Mercadante, a primeira providência de ajuste seria a adoção de metas "mais realistas". "Não tem sentido colocar uma meta de 4,5% neste e no próximo ano", disse, repetindo a crítica feita quando o governo formalizou as metas.

"O sistema de metas inflacionárias tem algumas utilidades. Se a sociedade é convencida de que a teoria econômica funciona e que o Banco Central tem credibilidade, é possível fazer a desinflação com custo menor", disse Delfim, em favor da metas, mas insistindo que a política monetária precisa da ajuda da política fiscal para obter resultados consistentes.

No estudo, a inflação média do grupo do países que adotou o regime caiu de 160,76% para 6,81%, respectivamente, antes e depois da adoção do sistema. O crescimento do PIB foi de 2,70% para 3,74% no mesmo período, enquanto a volatilidade da expansão da economia recuou de 4,59% para 2,46%.

O desempenho dos dois grupos foi feito tendo como referência dois períodos. Para os que seguem o regime, antes e após a adoção. Para os outros, antes e depois de 1991. Segundo Gonçalves, a escolha do período foi aleatória, mas alguns testes foram feitos com outros períodos, que confirmaram a consistência dos resultados da primeira amostra.

No caso dos países que não adotaram o regime de metas inflacionárias, os resultados são os seguintes: a inflação média caiu de 47,95% para 18,45%. Já o crescimento da economia ficou praticamente estável, com 3,47% no primeiro momento e 3,88% no seguinte.