Título: PP pagou viagem de Jobim para São Paulo
Autor: Diego Escosteguy, Marcelo de Moraes e Mariângela G
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2005, Nacional, p. A13

Autoridade máxima do Poder Judiciário no País, o ministro Nelson Jobim viajou de Brasília a São Paulo e ficou hospedado num hotel 5 estrelas a convite do Partido Progressista (PP), pouco antes de ser empossado como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), em maio do ano passado. Bancado pela sigla cujos dirigentes acumulam vários inquéritos no STF, Jobim foi à capital paulista participar de um seminário sobre economia, promovido pela legenda. As despesas com a viagem de Jobim estão registradas em faturas do PP obtidas pelo Estado. Elas foram confirmadas tanto pelo presidente do STF quanto pela presidência do partido.

Além dos processos que já corriam à época do seminário, a mais alta Corte do País é crucial para o destino dos dirigentes do PP no caso do mensalão. Os quatro deputados do partido que estão na fila de cassação da Câmara - Pedro Corrêa (PE), José Janene (PR), Pedro Henry (MT) e Vadão Gomes (SP) - jogam seu futuro político nas decisões do STF.

Eles entraram com pedidos de liminar na Corte para suspender os processos de cassação que correm no Conselho de Ética da Câmara.

Fizeram isso depois que Jobim concedeu liminar semelhante para os deputados do PT, que também podem ser cassados. Todos alegaram que não tiveram direito de defesa na Corregedoria da Câmara. Embora o STF ainda não tenha deliberado sobre as ações do PP, a decisão de Jobim abre precedente para que eles também obtenham uma decisão favorável.

O agora ex-deputado Severino Cavalcanti (PE), outra estrela do partido, também aposta seu destino na Corte. O processo do mensalinho, que levou a sua cassação, vai tramitar lá.

O seminário Compete Brasil - Movimento pela Competitividade das Empresas Brasileiras foi realizado entre os dias 3 e 5 de maio do ano passado, no Hotel Renaissance, um dos mais requintados da capital paulista.

FATURA

Segundo a fatura emitida pela Frota Turismo e paga pelo PP, a passagem aérea de Jobim de ida e volta entre Brasília e São Paulo custou R$ 1.834, preço de viagem na classe executiva.

Outro recibo da empresa de turismo mostra que o PP também pagou ao Hotel Renaissance extras de R$ 1.833,85, em razão de gastos de Jobim, do deputado Pedro Corrêa (presidente do PP) e da então assessora de imprensa da Casa Civil, Telma Feher. Ela acompanhava o chefe, José Dirceu, que deu uma palestra no seminário.

A programação do evento, voltado para economistas e estrelas do PIB nacional, tinha como foco debates sobre agronegócios, participação do Brasil em blocos econômicos e demais discussões da área. Entre os 30 palestrantes, não constava Jobim nem ninguém do Judiciário. O cronograma também não registrava nenhum debate que envolvesse aspectos jurídicos do campo econômico.

Segundo a assessoria do PP, Jobim discorreu no jantar de confraternização sobre a reforma do Judiciário e a "modernização da legislação do negócio brasileiro".

De acordo com a assessoria do STF, Jobim não quis comentar se considerava ético ter aceito o convite do PP. A assessoria informou que Jobim não cobrou pela palestra.