Título: Queda não será forte, prevê Iedi
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sergio Gomes de Almeida, acredita que a valorização do real ao nível de R$ 2,25 por dólar é um cenário novo para a economia e parece estar "iniciando perigosamente uma nova onda de apreciação da moeda". Ele não espera, porém, que as exportações venham a ter forte queda por causa do câmbio. Segundo Gomes de Almeida, no período de valorização da moeda, durante o Plano Real, as importações reagiram muito mais ao câmbio do que as exportações. "Nos anos de 1995 a 1998, por exemplo, vimos apenas uma desaceleração das vendas externas, não queda. Mas as importações, sim, tiveram um forte aumento."

Para o diretor do Iedi, a manutenção da forte liquidez internacional e o sucesso das últimas emissões abrem caminho para ampliar as captações no exterior, o que pode valorizar ainda mais o real. "A única coisa que pode limitar as captações é o fato de as empresas brasileiras estarem relativamente líquidas, por causa dos fortes lucros no ano passado e do baixo nível de investimentos."

O Iedi acredita que a apreciação do câmbio reflete o que todo mundo diz ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci: "Os juros estão muito altos". Além do corte na taxa Selic, o Iedi também quer que o Banco Central (BC) compre dólares com mais frequência no mercado.

Já o economista e professor da Unicamp, Luciano Coutinho, é favorável á idéia de que o Tesouro Nacional inicie um programa de compra de dólares e antecipe o aumento de reservas para honrar os compromissos da dívida cambial em 2006, como forma de ajudar na depreciação do real, cotado, atualmente, em torno de R$ 2,20.

Para Coutinho, essa é uma das formas que o governo tem para fugir da amarra da Lei de Responsabilidade Fiscal, que impede grandes compras de dólares pelo BC no mercado. "Seria, inclusive, prudente que o Tesouro antecipasse a formação de reservas para amortização, já que o próximo ano será eleitoral. Com uma ação desse tipo, o Tesouro iria tranqüilizar o investidor e diminuir os riscos de um ano de eleições", diz o economista.

Coutinho, que também defende um maior uso de instrumentos de derivativos pelo BC, a autoridade monetária do País já ultrapassou "os limites da sensatez" e pode comprometer os investimentos feitos nos últimos anos no setor produtivo, caso não mude sua política cambial.