Título: Exportadores temem real valorizado
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

A valorização do real em relação ao dólar, que nesta semana teve a cotação mais baixa desde maio de 2001, é o maior obstáculo para o crescimento da exportação de produtos manufaturados. Pesquisa inédita feita pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) com 841 empresas do setor indica que a desvalorização da moeda nacional seria a principal medida capaz estimular fortemente as vendas externas. Em questionário de múltiplas respostas, a medida foi a mais defendida pelos empresários, com 46% das citações. Em seguida, vieram a desoneração completa das exportações (38%) e a diminuição da burocracia (37%). Do total de questionários, respondidos entre 16 e 22 de agosto, 75% vieram de exportadoras, o equivalente a 630 empresas. Nesse universo, o real valorizado foi apontado como a maior dificuldade para exportar, com 64% das citações, em respostas múltiplas. O segundo maior entrave são os procedimentos burocráticos e administrativos associados à exportação (32%), seguido pelas dificuldades de se obter informações comerciais sobre mercados e concorrência, com 30%.

Para Humberto Barbatto, diretor do Departamento de Comércio Exterior do Ciesp, os resultados servem como alerta para o governo. "O risco que eu vejo é o de esgotar a paciência dos empresários. Se o real continuar se valorizando sem limite, certamente vai acabar desincentivando as empresas que se esforçam para exportar, apesar da situação desfavorável."

A pesquisa mostra como as empresas reagiram à valorização excessiva do real. Mais da metade dos empresários (52%) disseram que reduziram o volume exportado, alegando que a margem de lucro foi afetada. Mas 27% decidiram manter as vendas para não perder mercados conquistados, mesmo com lucros menores. Outros 10% não reduziram os volumes pelo simples fato de estarem cumprindo contratos, mas com expectativa de reduzir caso o câmbio continue desfavorável.

Um grupo formado por 6% dos entrevistados respondeu que não reduziu as exportações porque não há demanda por seus produtos no mercado interno. Para 3% houve um aumento de preços em dólar que compensou o câmbio desfavorável e manteve as margens em real.

O diretor do Departamento de Economia do Ciesp, Boris Tabacof, diz que o real valorizado pode impedir o avanço das vendas externas. "A participação do Brasil no comércio mundial, que era de 0,8% em 1998, agora é de 1,2%, o que ainda é muito pouco em relação ao potencial brasileiro."

De acordo com a pesquisa, 26% das empresas reajustaram os preços de exportação em mais de 10% nos últimos 12 meses. Em 24% das empresas, o reajuste foi inferior a 5%. Em outras 20%, a alta ficou entre 5% e 10%.

A Cerâmica Santa Terezinha, fabricante de isoladores elétricos, da qual Barbatto é diretor-superintendente, conseguiu emplacar aumentos de 15% a 20% nos preços em dólar, sem perder contratos. "Exportamos para mais de 40 países, o que facilitou o repasse. Nos mercados mais reticentes, como Estados Unidos e América Latina, tivemos a ajuda de concorrentes que também reajustaram preços." A Santa Terezinha fatura cerca de US$ 5 milhões por ano, dos quais 60% vêm das vendas externas.

No setor de autopeças, a Robert Bosch América Latina vem mantendo o nível de exportações, principalmente porque ainda tem contratos de longo prazo a cumprir, de um a dois anos. "Como somos uma empresa de tecnologia, perdemos competitividade lá fora com o dólar no no nível em que está", diz Anselmo Riso, gerente de Logística e Comércio Exterior da Bosch. Segundo ele, a empresa tentou reajustar em até 8% os preços de uma linha de produtos e enfrentou redução de pedidos.

A HVM do Brasil, que produz componentes para iluminação em néon, está entre as empresas que não encontram demanda suficiente no mercado doméstico. A empresa tem capacidade para produzir 1 milhão de eletrodos por mês e o mercado nacional absorve apenas 38 mil peças. Por isso, as exportações, que somaram US$ 3,1 milhões em 2004, representam 98% do faturamento.

A expectativa de Mauritius Dubnitz, presidente da empresa, é manter o valor das exportações este ano. "Como o nosso principal obstáculo é a valorização do real, buscamos novos mercados, nos quais podemos cobrar preços mais altos sem perder a competitividade", conta o empresário.