Título: Só Zveiter decide se os jogos sob suspeita serão repetidos
Autor: Sílvio Barsetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Esportes, p. E1

O presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Luiz Zveiter, chamou para si o direito de decidir sobre a anulação ou não de partidas do Campeonato Brasileiro. Em entrevista ontem à noite na sede do tribunal, ele disse que recebeu o aval dos demais auditores do STJD para definir o futuro da competição sem precisar levar o caso para o plenário. Zveiter ressaltou que a decisão sobre nova disputa de jogos, por causa de manipulação de resultados, cabe apenas ao STJD. "A CBF não pode decidir nada sobre isso; ela tem de se ater a medidas administrativas." Zveiter comentou que a CBF já adotou essas medidas - ao afastar os árbitros envolvidos no escândalo da arbitragem brasileira, comunicar o fato à Fifa e à Confederação Sul-Americana e determinar a instauração de sindicância interna para apurar as denúncias. Acabou deixando escapar, no entanto, que a CBF não pode fazer nada além disso. "É uma matéria exclusiva do STJD (a anulação ou não dos jogos). Nenhum ato administrativo da CBF pode determinar se uma, duas, três, dez ou onze partidas terão de ser realizadas de novo."

Decidir sozinho sobre a anulação dos jogos é a hipótese que ganhou mais força ontem, embora Zveiter não tenha descartado a possibilidade de remeter o assunto ao plenário do STJD ou mesmo de acatar uma medida punitiva proposta pela Procuradoria do tribunal. Garantiu que hoje não anunciárá nada.

Na hipótese de anulação de partidas, os novos jogos seriam com portões abertos. Zveiter afirmou que os atletas suspensos pela Justiça esportiva e, por isso, impedidos de atuar nas partidas eventualmente anuladas não teriam condições de jogo nos novos confrontos.

Apesar de convergirem quanto à continuidade do Brasileiro, Zveiter e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, estão em campos opostos com relação a aspectos sobre o desdobramento das denúncias de corrupção. A pressa em resolver o problema é de ambos, para que não haja comprometimento da competição. Mas a questão de quem vai anunciar a 'sentença' dos jogos "contaminados" reflete uma disputa acirrada de bastidores. Teixeira incomoda-se com o poder cada vez maior de Zveiter, seu desafeto.

No ano passado, Teixeira apoiou ostensivamente a candidatura de Nelson Braga à presidência do STJD. O filho de Braga é casado com uma das filhas do presidente da CBF. Zveiter, porém, conseguiu se manter na função depois de uma disputa interna que durou meses e provocou o isolamento de Braga e do outro auditor do tribunal indicado pelos clubes da Série A do Brasileiro para integrar o STJD: Francisco Müssnich, ligado ao Botafogo.