Título: Chove no Acre e operação contra incêndios é suspensa
Autor: João Maurício Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2005, Vida&, p. A15

Mas bombeiros e especialistas do Ibama seguem de prontidão na capital, Rio Branco

Uma grande operação de combate aos incêndios florestais no Acre foi desativada ontem, por causa da chuva, que começou durante a madrugada e prosseguiu durante o dia. Mais de 1 tonelada de equipamentos, 150 bombeiros de Brasília, 1 helicóptero, 1 avião e 20 especialistas do Ibama estão de prontidão na capital, Rio Branco. O Acre está em estado de emergência desde quarta-feira, quando 2 mil pessoas saíram às ruas usando máscaras para protestar contra a fumaça que cobria o Estado. Por sugestão do Ministério Público do Estado, o governador Jorge Viana decretou emergência, visando a envolver o governo federal no problema e a poder adquirir equipamentos e contratar serviços.

Ontem, o governador Jorge Viana disse que ainda há focos de incêndios em vários municípios onde a chuva foi menos intensa. Foram detectados 325 focos de calor anteontem, principalmente ao longo da rodovia BR-317, onde está a Reserva Extrativista Chico Mendes.

Para o governador, os incêndios florestais só deixarão de ser problema quando todos os Estados amazônicos chegarem a um consenso sobre como combater queimadas e desmatamentos. A maior parte da fumaça que cobre o Acre vem de Rondônia e Mato Grosso - seus respectivos governadores, Ivo Cassol e Blairo Maggi, foram a Rio Branco ontem discutir o problema com Viana. Ele também pretende convocar os governadores da região amazônica para uma reunião em Brasília.

ESTIAGEM

As queimadas no Acre vinham ocorrendo desde julho, quando os agricultores aproveitam a estiagem para preparar a terra para o plantio. Contudo, neste ano, o período seco se estendeu além do previsto, reduzindo a umidade relativa do ar e favorecendo os incêndios florestais fora de controle.

Os incêndios começaram no dia 18 de setembro, data do encerramento de uma portaria do Ministério Público proibindo queimadas no Estado. Nos dois dias seguintes, Rio Branco foi coberta por uma nuvem de fumaça só comparável às registradas nos anos 80, quando as queimadas eram até incentivadas pelo governo. Nesse período, foram registrados 1.086 focos de calor.

Cerca de 160 pacientes atendidos diariamente no maior pronto socorro da capital - principalmente crianças e idosos - apresentavam problemas respiratórios.

As principais atividades econômicas do Estado também foram prejudicadas com os incêndios. Na pecuária, houve queima de pastagens, cercas, currais e morte de gado. Também foram registradas perdas de plantações inteiras de banana e café em locais como Plácido de Castro e Acrelândia.

O presidente da Federação da Agricultura do Estado, Assuero Veronez, disse que os prejuízos ainda serão contabilizados, mas não será possível avaliar as perdas que virão com a queda da produtividade em função da má qualidade das pastagens. "Além da redução de peso do gado, haverá redução da taxa de natalidade no rebanho", explica.