Título: Papa recebe a visita de dissidente e crítico
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2005, Vida&, p. A14

O teólogo Hans Küng foi censurado por Ratzinger no papado de João Paulo II

Em um sinal de reconciliação com a ala progressista da Igreja, o papa Bento XVI se reuniu no sábado com o teólogo suíço Hans Küng, professor da Universidade de Tübingen, na Alemanha, censurado e proibido de lecionar em 1979, durante o papado de João Paulo II, por causa de suas posições. De acordo com o porta-voz da Santa Sé, Joaquín Navarro Valls, o encontro durou cerca de duas horas e transcorreu em um "clima amistoso". Os principais temas discutidos foram a ética mundial e o diálogo entre a razão das ciências naturais e a razão da fé cristã. Ainda segundo o porta-voz, para que a reunião ocorresse, tanto Bento XVI quanto o teólogo estavam conscientes "de que não havia sentido entrar em uma disputa sobre as questões doutrinais persistentes entre Hans Küng e o magistério da Igreja Católica".

Em uma entrevista a um jornal alemão, Küng explica que havia pedido a audiência com Bento XVI há algumas semanas, na "tentativa de poder travar um diálogo com o papa, apesar de todas as diferenças". Conta que obteve uma resposta imediata a seu pedido e que entendeu essa disposição como um "sinal de esperança". O teólogo descreve seu antigo companheiro de Concílio Vaticano II, que depois se transformou em um dos seus perseguidores, como um interlocutor "aberto, que escutou com atenção".

No encontro, eles falaram em alemão, língua materna de ambos, e ocorreu em Castelgandolfo, residência de verão dos papas, cerca de um mês após o encontro de Bento XVI com o monsenhor Berbard Fellay, um dos representantes da ala mais conservadora da Igreja.

CONTESTAÇÃO

Küng se tornou professor na mesma época que Ratzinger, a quem conheceu em uma aula teológica em Innsbruck, na Áustria, em 1957. Progressista, se afastou do atual papa quando começou a defender posturas liberais, como o teólogo brasileiro Leonardo Boff.

Entre suas posições, estão o questionamento do princípio da infalibilidade papal, o apoio à ordenação de mulheres e a defesa de uma descentralização da Igreja, o que daria mais independência para a atuação dos padres de cada região.

Atualmente, além de ser consultor da ONU para assuntos relacionados à ética, o teólogo dirige um instituto de teologia ecumênica, tendo como centro de sua atuação o diálogo entre as religiões.