Título: Espanha condena 18 da Al-Qaeda
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2005, Internacional, p. A11

Condenação histórica alcança acusados de envolvimento nos atentados de 2001 com aviões de passageiros contra alvos nos EUA

A Justiça espanhola condenou ontem 18 membros da Al-Qaeda por envolvimento nos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. A decisão é considerada histórica por dois motivos. Primeiro, é a maior condenação já feita de implicados nos atentados contra os Estados Unidos. Antes, apenas a Alemanha havia condenado um suspeito, que mais tarde seria absolvido da acusação. O segundo motivo é que essa decisão judicial pode estabelecer parâmetros para o julgamento (ainda sem data) dos acusados de autoria dos atentados de 11 de março de 2004 em Madri, que mataram 192 pessoas e feriram pelo menos 2 mil. O sírio Imad Eddin Barak Yarkas pegou a maior pena: 27 anos de reclusão. Mais conhecido como Abu Dahdah, Yarkas chefiava a célula européia da Al-Qaeda e participou do planejamento dos ataques ao World Trade Center e ao edifício do Pentágono em 2001.

A promotoria apontou Abu Dahdah como um dos culpados das 2.973 mortes ocorridas naqueles atentados. E pediu pena de 74.337 anos de prisão para ele e outros dois comparsas: Driss Chebli e Ghasoub Al-Abrash. Chebli acabou sendo absolvido da acusação de múltiplo assassinato, mas pegou 6 anos de prisão por pertencer à célula terrorista. Al-Abash foi absolvido das duas acusações.

Entre os condenados está um jornalista, Taysir Alony, da rede de TV árabe Al-Jazira. Ele foi declarado culpado por colaborar com a Al-Qaeda e sentenciado a 7 anos de reclusão. Os outros 13 réus, entre os quais o espanhol José Luis Galán, receberam penas de 6 a 11 anos.

Os três juízes da Audiência Nacional debateram as sentenças durante dois meses. E redigiram um relatório de 500 páginas para comprovar a existência de uma célula da rede de Bin Laden na Espanha que participou dos atentados 11 de setembro.

Segundo o relatório, os condenados participaram de reuniões da Al-Qaeda na Espanha e Alemanha para preparar os ataques nos Estados Unidos. Eles teriam mantido contatos diretos com o egípcio Mohamed Atta, piloto suicida que lançou um avião da American Airlines contra o World Trade Center. Atta esteve na cidade espanhola de Tarragona em julho de 2001.

Desde 11 de setembro daquele ano as autoridades espanholas prenderam 30 extremistas islâmicos suspeitos de terem colaborado com os autores dos atentados. Vários foram libertados por falta de provas. O juiz Baltasar Garzón, responsável pelas investigações, instruiu o processo com informações obtidas na Alemanha, Estados Unidos, Indonésia, Grécia, Inglaterra, Bélgica, Iêmen, Síria, Suécia, Turquia, Jordânia e Arábia Saudita.

Os dados mais importantes teriam vindo de Hamburgo, Alemanha, onde Atta planejou os ataques de 11 de setembro com outros comparsas. Um deles, Mounir el-Motassadeq, chegou a ser condenado pela Justiça alemã em 2003 pelas mortes ocorridas naqueles atentados. Mas a sentença acabou sendo anulada no ano passado pela Suprema Corte alemã. Isso porque o governo dos Estados Unidos não autorizaram o interrogatório de uma testemunha-chave, presa em Nova York. Em novo julgamento, Motassadeq foi absolvido daquela acusação. Mas pegou 7 anos de reclusão por integrar uma célula terrorista.

No caso da Espanha, os advogados da defesa consideraram "injustas" as sentenças ditadas ontem. Eles têm prazo de 10 dias para recorrer ao Tribunal Supremo, a última instância da Justiça espanhola.