Título: Fazenda do presidente da UDR é ocupada
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2005, Nacional, p. A10

Nabhan vê ação de sem-terra no Pontal como 'provocação', pois área seria produtiva

No Pontal do Paranapanema, extremo oeste de São Paulo, cerca de 300 militantes invadiram, de madrugada, a fazenda Ipezal, em Sandovalina, no Pontal do Paranapanema. As terras pertencem ao presidente nacional da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia. Os sem-terra cortaram a cerca e montaram barracos numa área de pastagem. Nabhan Garcia disse que a ação foi uma provocação. "A fazenda tem apenas 366 hectares, é particular e produtiva." A coordenadora do MST Maria Aparecida Gonçalves afirmou que a invasão da Ipezal faz parte da luta "por terra e crédito".

Policiais civis e militares foram impedidos de constatar os danos na área. No início da noite, a Justiça concedeu liminar para o despejo dos invasores.

REFORMA

Depois de cinco ocupações em dois anos, finalmente a Fazenda Santa Terezinha, em Taubaté, no Vale do Paraíba, vai passar para as mãos de famílias integrantes do Movimento Sem-Terra (MST). O local começou a ser invadido em fevereiro de 2003 e neste período os integrantes ocuparam outras duas fazendas e por várias vezes a agência do Unibanco, já que a área pertencia à empresa Unibanco Leasing.

No último sábado, técnicos do Incra (Instituto Nacional de Reforma Agrária) estiveram na área comunicando às famílias que a fazenda passa a fazer parte da reforma agrária. O governo federal pagou uma indenização no valor de R$ 785 mil pela área ao Unibanco. Emocionada, a lavradora Araíde de Jesus Pinto quase chorou. "Eu quero pedir que as outras famílias não desanimem. Insistam na terra que um dia ela chega."

Na área já há plantação de milho e árvores frutíferas.

Mas a posse da terra por parte do Incra não garante a terra para cada uma das 36 famílias que ocupam a fazenda. De acordo com o Incra, as famílias terão que cumprir alguns critérios. "Ser capaz de trabalhar, não ter renda não agrícola maior que três salários mínimos, não ser comerciante, não ter propriedade", explicou o chefe de divisão técnica do Incra, Sinésio Sapucahy.

Para o líder do MST na região do Vale do Paraíba, Valdemir Nascimento, as famílias acampadas cumprem as exigências do Incra. "Tenho certeza que todas que estão aqui terão a terra porque os critérios do MST são até mais rigorosos que os do Incra." No Vale do Paraíba já existem outros dois assentamentos, em Tremembé e em São José dos Campos.

Além dos dois assentamentos, uma outra fazenda, a Corumirim, atualmente é ocupada por famílias ligadas ao MST. A área pertence à Votorantim Celulose e Papel, que mantém no local plantação de eucalipto. Segundo Sapucahy, na semana passada o Incra repassou recursos para que "se ajuíze uma ação junto à Justiça Federal para pedir a posse da Corumirim ao Incra".