Título: 'PT não podia concorrer porque deve explicações'
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Nacional, p. A7

Pouco depois da acirrada disputa pelo comando da Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu um seleto grupo de ministros e deputados, na Granja do Torto, para comemorar a eleição de Aldo Rebelo (PC do B-SP). Foi o primeiro respiro governista após mais de cem dias de crise. Entre os convidados fez questão de chamar os cinco petistas que gostariam de concorrer à presidência da Câmara e abriram mão da pré-candidatura. Lula disse que a eleição de Aldo foi muito importante para o governo e o Legislativo e agradeceu a compreensão dos deputados do PT. "O PT não poderia concorrer porque deve uma explicação à sociedade", afirmou o presidente, de acordo com relato de participantes da reunião, que começou por volta de 22 horas da quarta-feira e varou a madrugada. Bem-humorado e fazendo piadas, Lula elogiou a abnegação do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que retirou o nome do páreo menos de 24 horas depois do lançamento de sua candidatura, cedendo a vaga para o comunista Aldo, ex-ministro da Coordenação Política.

A escolha de Aldo, no diagnóstico do presidente, será decisiva para ajudar o Planalto a espantar a turbulência política que desde junho paralisa o governo. "Todos vocês eram bons candidatos, mas a situação obrigou o PT a não ter candidato. O PT cometeu muitos erros", justificou Lula, dirigindo-se a Chinaglia, Sigmaringa Seixas (DF), José Eduardo Martins Cardozo (SP), Paulo Delgado (MG) e Antônio Carlos Biscaia (RJ). Também estavam presentes Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), que em fevereiro perdeu a disputa para Severino Cavalcanti - o presidente da Câmara obrigado a renunciar para escapar da cassação -, o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), e o deputado Eduardo Campos (PSB).

FALHAS

O clima era de descontração total e Lula parecia aliviado. Nas rodas de conversa que se formaram, ele admitiu que o governo falhou por não ter dialogado mais com o Congresso, antes da eclosão da crise. Petistas sugeriram ao presidente que, a partir de agora, se antecipe aos problemas e adote uma relação menos conflituosa com a oposição.

Na pajelança, Lula prometeu mais conversa - a começar pela bancada do próprio PT - e em nenhum momento falou dos mundos e fundos que o Planalto moveu para eleger Aldo. A certa altura, o assunto voltou para a crise no PT.

"É verdade que o Miro Teixeira saiu do PT?", perguntou o presidente, referindo-se ao deputado fluminense que engrossou a debandada petista e retornou ao PDT. Diante da resposta afirmativa dos companheiros, Lula lamentou a saída de Miro, que foi ministro das Comunicações no início do seu governo. Mas não teve a mesma atitude com os outros cinco deputados que deixaram a sigla. "Ele demonstrou impaciência. Disse que todos já estavam na oposição", contou um ministro.

Lula vai pedir ao senador Delcídio Amaral (MS), presidente da CPI dos Correios, que não saia do PT. Hoje termina o prazo para mudança de partido dos que desejam concorrer à eleição de 2006. Delcídio parece inclinado a atender ao apelo, embora considere o PT um "partido autofágico", consumido por uma fogueira de vaidades e fogo amigo.

Entre um pedaço de carne e outro - servidos como petiscos -, os ministros Jaques Wagner (Relações Institucionais), Antônio Palocci (Fazenda), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), Ciro Gomes (Integração Nacional), Walfrido Mares Guia (Turismo) e Hélio Costa (Comunicações) conversaram animadamente durante horas. Antes da meia noite, a primeira-dama, Marisa Letícia, pediu a atenção de todos: avisou que Marinho acabara de salvar o Corinthians, empatando o jogo com o River Plate em 1 a 1. Corintiano roxo, Lula abriu um sorriso de orelha a orelha. "Mais uma boa notícia", disse.