Título: Chantagem, negociata, pressão. Para eleger Aldo
Autor: Diego Escosteguy e Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Nacional, p. A8

Assegurada à base de muito fisiologismo, a eleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à presidência da Câmara dos Deputados encontra nos bastidores sua melhor definição. Houve chantagem política, choro, promessas de liberação de emendas e até negociações abertas por cargos endinheirados no governo. Numa ponta, sempre o Palácio do Planalto; na outra, partidos da base aliada, quase todos mais interessados nos frutos das barganhas que nas qualidades do futuro presidente da Câmara. Veja a seguir como os partidos decisivos para a eleição de Aldo Rebelo se comportaram nas eleições de quarta-feira.

PDT

Candidato café-com-leite, sem chance de ser eleito, o deputado Alceu Collares (PDT-RS) armou com o Planalto a manutenção de sua candidatura para negociar seus votos no atacado, no segundo turno.

O PDT saiu no lucro. Apavorado com o empate entre Nonô e Aldo no primeiro turno, Collares foi procurado por Wagner e fecharam negócio. O estoque do PDT (15 votos) e de mais três de parlamentares gaúchos ligados a Collares não saiu barato. O governo comprometeu-se a liberar já R$ 18 milhões para o metrô de Salvador, cuja prefeitura é tocada pelo pedetista João Henrique, e apressar a liberação do restante pactuado até o final do ano. O metrô é orçado em U$ 300 milhões e a parte do governo neste é de R$ 295 milhões.

PP

A candidatura de Ciro Nogueira (PP-PI) fez parte de uma manobra política combinada entre o Planalto e o partido de Severino Cavalcanti, com o objetivo de garantir a eleição de Aldo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente da Câmara acertaram os detalhes antes mesmo de Aldo ser escolhido candidato do governo.

A estratégia foi delineada na segunda-feira da semana passada, dois dias antes de Severino renunciar. Durante uma reunião reservada com Lula no Planalto, ele apresentou a Lula a idéia da sigla de lançar o afilhado político Ciro Nogueira como candidato.

A estratégia era simples. Ciro deveria garantir votos suficientes no primeiro turno da eleição para impedir que o candidato da oposição, José Thomaz Nonô (PFL-AL), atropelasse Aldo. Com o segundo turno assegurado, o PP apoiaria a candidatura governista.

Apresentando-se como fiel da balança, o PP, via Severino, cobrou uma fatura alta. O partido que tem quatro deputados à beira da cassação por causa do escândalo do mensalão exigiu nomear todos os cargos-chave do Ministério das Cidades, pasta cujo titular, Márcio Fortes, já é da cota da legenda. É a chamada "porteira fechada", no linguajar dos políticos.

Atendida a exigência, o então presidente da Câmara cuidou dos seus. Pediu que, caso o governo ganhasse, mantivesse os cargos de confiança ligados a ele. São assessores de Severino remunerados pela Câmara, mas que moram em Pernambuco, base política dele.

Apesar do acordo ter contado com a bênção da cúpula do PP, não foi fácil convencer os demais deputados do partido. Na reunião da bancada da legenda, já na discussão para o apoio no segundo turno, deputados ameaçaram se rebelar. "E esse governo por acaso cumpre algum acordo?", berrava aos colegas o relator da CPI do Mensalão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), na sala da Liderança do partido na Câmara. Só depois de muito bate-boca, os rebeldes foram convencidos.

Para acertar os detalhes das nomeações, o líder da bancada, José Janene (PP-PR), convocou o ministro das Cidades, Márcio Fortes, que acompanhou as negociações.

Jogando com o nervosismo do governo, o PP conseguiu até a oferta de ocupar o Ministério da Educação. A pasta foi oferecida a Ciro Nogueira. Ele declinou porque, com as eleições do ano que vem, só poderia ficar no cargo até abril.

PTB

No PTB, o fator decisivo para a bancada fechar o apoio ao governo foi a pressão do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia (PTB-MG). No primeiro turno, a legenda lançou o deputado Luiz Antônio Fleury (PTB-SP), como parte da estratégia de garantir que Aldo chegasse ao segundo turno.

Deu certo. Mas pouco antes da disputa entre o ex-ministro e Nonô, a bancada também se rebelou. A maioria achou pouco a promessa de liberação de emendas parlamentares. Chamado às pressas, Mares Guia ameaçou: "Se vocês não se resolverem, eu saio do partido e do governo agora."

PL

Ao ex-deputado Valdemar da Costa Netto foi prometido a manutenção do controle do Ministério dos Transportes, de porteira fechada. Além disso, o ministério terá mais R$ 600 milhões para gastar com estradas.