Título: Alencar entra no PMR e concorre ' a qualquer coisa'
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Nacional, p. A9

O vice-presidente da República, José Alencar, se filiou ontem, em Belo Horizonte, ao Partido Municipalista Renovador (PMR), sinalizando que poderá concorrer no próximo ano à Presidência da República ou ao governo de Minas. Em breve, a nova legenda - que nasceu associada à Igreja Universal do Reino de Deus - passará a se chamar Partido Republicano. Cobiçado por vários partidos desde que deixou o PL, no início deste mês, Alencar decidiu ingressar numa sigla nova, sem caciques, o que lhe permitirá um maior leque de opções em 2006. "Posso ser candidato a qualquer coisa", discursou o vice-presidente na concorrida solenidade de filiação em um salão nobre do hotel Ouro Minas.

Embora tenha evitado falar sobre seu futuro político, Alencar deixou claro que pretende encabeçar uma chapa. "Se meu partido me der legenda, eu posso ser candidato. Porém, não posso ser candidato a vice-governador, não posso ser candidato a vice-presidente da República, porque não existe a candidatura a vice, (ela) é fruto de um convite do candidato titular e de uma aceitação do convidado. Isso é um fato. Então, o dia de amanhã a Deus pertence."

Nos últimos dias, PMDB - basicamente o diretório mineiro - e PSB, principalmente, intensificaram os convites a Alencar, mas na semana passada ele já informado sua decisão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"LIMPO"

Alencar repetiu que ficou muito contrariado e desconfortável com a crise que atingiu "o cenário nacional" e que sua intenção era "não militar mais na política". O fato preponderante para sua saída do PL foi a permanência de Valdemar da Costa Neto na presidência do partido. Alencar disse que foi orientado pelo próprio Lula a se filiar novamente e ontem justificou assim sua escolha: "É um partido que eu acompanhei a sua organização e sei que ele nasce limpo."

O senador Marcelo Crivella (RJ), também filiado ao PMR, afirmou que a nova legenda "surge sob a orientação" de Alencar. Ele procurou desvincular o partido da questão religiosa. "Não é um partido evangélico. Não tem um programa evangélico."

Para o presidente do PMR, Vítor Paulo Araújo dos Santos, a agremiação nasce como "um partido de centro-esquerda". Ele rechaçou o "Estado mínimo dos neoliberais" e disse que a defesa é de um Estado do "tamanho adequado" para o desenvolvimento econômico e social do País.

Segundo Alencar, o PMR "nasce ao lado do Brasil", mas não participará automaticamente da base aliada ao Planalto. "Todas as ações do presidente Lula que consulta o elevado interesse nacional eu não tenho dúvida de que terão grande apoio do partido", observou em entrevista.

Na sua fala, o vice-presidente voltou a criticar as taxas de juros e reafirmou que o discurso de campanha não assumiu o poder no governo Lula. "Condenávamos a política monetária que perturbava e impedia o desenvolvimento da economia brasileira. Só que este nosso discurso não assumiu o poder."

Vitor Paulo adiantou a mudança do nome para Partido Republicano - que será formalizada na primeira convenção partidária - e anunciou que seu cargo deverá ocupado pelo ex-vice-governador do antigo Estado da Guanabara, Raphael de Almeida Magalhães.

UNGER

Outro nome anunciado com entusiasmo como integrante da legenda foi o do filósofo Roberto Mangabeira Unger, que na eleição presidencial de 2002 atuou como guru político do então candidato do PPS, Ciro Gomes.

A solenidade de filiação contou com a presença do grupo político do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT). O vice-presidente é cotado para encabeçar aliança com o PT em Minas na disputa pelo Palácio da Liberdade no ano que vem.

Pimentel e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, evitaram comentar a filiação de Alencar. Dulci, porém, disse que o PT e o governo Lula continuam considerando o vice "um companheiro". "Vamos pensar as alternativas eleitorais para o ano que vem no momento certo."