Título: Troca-troca atinge quase um terço da Câmara
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Nacional, p. A10

Na atual legislatura, iniciada em 2003, nada menos do que 163 deputados já trocaram de partido. Esse número vai aumentar ainda mais hoje, último dia para o troca-troca partidário - previsto para garantir a elegibilidade dos candidatos à eleição de 2006. De acordo com a Lei Eleitoral, a partir de amanhã os parlamentares que mudarem de legenda ou ficarem sem nenhuma não poderão concorrer no ano que vem. Desde o início do atual mandato dos deputados até agora, já houve 251 mudanças partidárias na Câmara, já que muitos parlamentares mudaram de legenda mais de uma vez. Na dança das cadeiras, o paraense Zequinha Marinho (PSC) é o campeão (ver ao lado).

Tradicionalmente, essa mudança de legendas se acelera perto do fim do prazo para garantir a elegibilidade nas eleições seguintes. Somente na quarta-feira, sete deputados comunicaram oficialmente à Mesa da Câmara que alterariam a sua filiação partidária.

Não são apenas deputados pouco conhecidos que animaram o troca-troca partidário, acelerado na quarta-feira.

O ex-ministro das Comunicações e ex-líder do governo Miro Teixeira (RJ) oficializou a sua volta ao PDT, de onde saíra em 13 de abril de 2004, por causa da política de oposição feita pelo partido ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na época, Miro passou para o PPS, de onde também se desligou em 14 de fevereiro deste ano, para ingressar no PT. Na quarta-feira, Miro resolveu voltar ao partido no qual militou boa parte de sua vida política, ao lado do já falecido governador do Rio Leonel Brizola.

DEBANDADA

Outros nomes conhecidos também fizeram movimentos recentes de mudança partidária. É o caso de Delfim Netto (SP), um dos ícones políticos da Arena e do PDS. Ele se sentiu sem espaço político e incomodado com os problemas internos do PP, onde alguns dos principais dirigentes estão envolvidos com acusações de suposto recebimento de mensalão.

Delfim decidiu passar para o PMDB, sucessor político do MDB, antigo arqui-rival da Arena, onde o deputado tinha papel de destaque.

O novato PSOL também se tornou um dos principais endereços das mudanças na Câmara, em grande parte por causa da debandada no PT.

Dissidentes petistas participaram ontem de cerimônia de filiação ao novo partido, que estreará nas urnas no próximo ano. Do PT, o PSOL já tinha levado anteriormente a senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados João Batista Babá (PA) e Luciana Genro (RS). Agora, leva outros cinco: João Alfredo (CE), Ivan Valente (SP), Chico Alencar (RJ), Orlando Fantazzini (SP) e Maninha (DF).

ROTATIVIDADE: O deputado Zequinha Marinho (PSC-PA) é o campeão da troca de partidos. Desde 2003 ele mudou seis vezes de legenda. Hoje é o presidente do PSC paraense. Diz que agora não há risco de troca.

Zequinha Marinho foi eleito pelo PTB. Em setembro de 2003, transferiu-se para o PSC. Cinco meses depois, foi para o PMDB, a pedido do ex-govenador Anthony Garotinho, que desejava derrubar o líder José Borba (PR), governista, e pôr em seu lugar um oposicionista. Mas, 26 dias depois, Marinho largou o PMDB e ficou sem partido.

Acontece que, na disputa para ver quem mandava no PMDB, a turma de Garotinho descobriu a ficha de filiação de Marinho. Três dias depois, a ficha foi registrada novamente no PMDB. Marinho descobriu que voltara ao PMDB, involuntariamente. Pediu a baixa. Ficou então 25 dias sem partido. Até que no dia 30 de março retornou ao PSC.