Título: PF quer indiciar 12 deputados por mensalão
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Nacional, p. A11

A Polícia Federal já tem elementos para indiciar o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do caixa 2 do PT, o publicitário Duda Mendonça e os ex-tesoureiro e ex-secretário-geral do partido, respectivamente, Delúbio Soares e Silvio Pereira, além de 12 parlamentares que sacaram recursos de origem ilegal das contas de Valério. Nos últimos três meses eles foram investigados sob a acusação de participar do esquema de arrecadação e movimentação de recursos ilegais e poderão ser processados por lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e formação de quadrilha. Os nomes de todos constarão do relatório parcial do inquérito do mensalão, que a PF encaminhará ainda hoje ao Supremo Tribunal Federal (STF). A PF pedirá mais 30 ou 60 dias para concluir as investigações. Caberá ao STF decidir se atende os pedidos de indiciamentos, já agora, ou ao final do novo prazo do inquérito. O relatório especificará o grau de participação de cada acusado no esquema.

A continuidade das investigações poderá adicionar novos nomes aos já relacionados para indiciamento, entre os quais os do deputado José Dirceu (PT-SP) e do deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Eles criaram dificuldade para prestar depoimento e não foram ainda ouvidos nessa etapa do inquérito que se encerra hoje.

As investigações constataram que a versão do empréstimo, divulgada por Valério para justificar R$ 55 milhões usados na distribuição de dinheiro a parlamentares e partidos aliados, foi uma farsa engendrada por ele e Delúbio para encobrir a origem ilícita dos recursos.

Os parlamentares sacaram pessoalmente, ou por meio de assessores e familiares, recursos da conta de Valério no Banco Rural, a maior parte na agência de Brasília e uma parte na sede da institução, em Belo Horizonte.

A PF também levantou indícios de que Valério montou um esquema de arrecadação de dinheiro em estatais onde suas empresas de publicidade, SMPB e DNA, tinham contrato. A PF suspeita que o esquema de arrecadação se estendeu a doadores privados que têm negócios com o governo. O mapa desses doadores será montado na próxima fase das investigações.

Entre os parlamentares sobre os quais já foi formado rol de provas de envolvimento no esquema estão o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) e o ex-líder do partido Paulo Rocha (PT-PA). Cunha confessou que mandou a mulher, Márcia Regina Milanese, sacar R$ 50 mil em 2003 e explicou que usou o dinheiro para pagar pesquisas eleitorais que encomendou para correligionários que disputariam a eleição municipal em São Paulo. Rocha disse que usou todo o dinheiro sacado por seus assessores, cerca de R$ 1 milhão, para pagar dívidas do PT contraídas na eleição de 2002 no Pará.

No relatório da PF figuram os dois parlamentares que renunciaram ao mandato para escapar da cassação. Um deles é o deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP), que confessou ter recebido R$ 10,8 milhões de Valério por conta de um acordo com o PT para apoiar o presidente Lula no segundo turno da eleição de 2002. O outro é o deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), que aparece na lista de sacadores com um montante de R$ 400 mil.

Os dois negaram que soubessem da origem ilícita do dinheiro, mas entraram em contradição e não apresentaram até agora recibo ou comprovante de que o dinheiro foi de fato gasto em campanha. Rodrigues, que prestou depoimento ontem, alega que só recebeu R$ 150 mil e disse que renunciou ao mandato porque se tratava de um julgamento político.