Título: Marinho denuncia propina nos Correios para comprar carros
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Nacional, p. A12

Pivô do caso do mensalão, o ex-chefe de departamento dos Correios Maurício Marinho apresentou ontem dossiê à CPI dos Correios em que acusa membros da Diretoria de Operações de terem recebido cerca de R$ 1 milhão pela compra de 1.050 furgões para a estatal. No dossiê e no depoimento a portas fechadas à CPI, Marinho, que foi flagrado em maio recebendo R$ 3 mil de suborno, não apresentou provas das acusações. "Ele deixou claro que são ilações", afirmou o sub-relator de movimentação financeira, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). "Marinho diz que houve um acerto da Diretoria de Operações com a Fiat, que vendeu os furgões, pelo qual foram pagos R$ 1 mil a mais por veículo", confirmou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), que esteve na sessão fechada da CPI. A Diretoria de Operações era chefiada por Maurício Madureira, que foi indicado pelo PDT, no início de 2003. Com a mudança na presidência dos Correios, em 2004, Madureira se manteve como diretor de Operações graças ao apoio do PT e do PMDB.

A compra dos furgões foi feita em 2004 e ficou em R$ 34 milhões. Cada veículo custou R$ 32.400. O valor de referência de cada um era R$ 31.776, segundo Fruet. A Fia foi a única que apresentou proposta na licitação.

No dossiê e no depoimento, Marinho disse ainda que todo o processo do aditivo do contrato dos Correios com a agência de publicidade SMPB, de Marcos Valério, foi conduzido por José Otaviano Pereira que, segundo ele, era "homem" do ex-ministro Luiz Gushiken no Departamento de Marketing. O contrato era de R$ 72 milhões e passou para R$ 90 milhões com o aditivo. O Tribunal de Contas da União (TCU) já detectou superfaturamento neste contrato.

Marinho também apontou irregularidades nos contratos para compra de micros e do kit de atendimento comercial, no projeto corporativo de automação industrial, na compra integrada de seguro postal, no correio híbrido postal e na licitação para comprar coletores de dados.

JEFFERSON

O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que no depoimento de quatro horas Marinho afirmou que não tinha contato freqüente com o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). "Ele contou que quem representava o deputado nos Correios era seu genro, Marcus Vinícius Vasconcelos, que era assíduo na empresa."

Segundo Serraglio, ele garantiu que "há corrupção endêmica" nos Correios e os atuais diretores "são pessoas colocadas pela diretoria passada". O relator disse que Marinho admitiu ter recebido "dinheiro de várias empresas" e "contou que ficava com uma parte do dinheiro e repassava a outra parte".

Esta é a segunda vez que Marinho depõe à CPI dos Correios. No primeiro depoimento, em 22 de junho, ele denunciou irregularidades em vários contratos da estatal, sem apresentar provas. Ontem, usou a mesma tática: apontou oito contratos irregulares, mas não trouxe provas. "O Maurício Marinho não apresentou nada muito substantivo. Apenas dá muitas pistas", resumiu Eduardo Paes.