Título: Bancos não emprestaram ao PT, diz PF
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Nacional, p. A13

A Polícia Federal e a CPI dos Correios reuniram evidências suficientes para concluir que é falsa a versão do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza segundo a qual ele financiou o PT com empréstimos bancários. Valério não declarou na contabilidade de suas empresas os financiamentos que diz ter feito unicamente para ajudar o partido. Segundo o sub-relator de movimentação financeira da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), essa omissão indica que o empresário fraudou os dados contábeis de suas firmas e também os documentos enviados à CPI. "Ou há fraude fiscal ou há falsidade ideológica", disse o deputado. Documentos apreendidos pela PF em poder de Marcos Prata, ex-contador das empresas de Valério, não registram os empréstimos. "Os documentos de 2004 e 2005 mostram que não houve empréstimos para o PT", revelou Fruet.

Ainda segundo o deputado, a cada dia fica mais claro que Valério "repassou dinheiro para o PT ao mesmo tempo em que suas agências de publicidade tinham contratos com empresas do governo, como os Correios e o Banco do Brasil".

Não existe, de acordo com Fruet, conexão entre os financiamentos tomados por Valério nos bancos Rural e o BMG e os empréstimos que ele garante ter feito ao PT. Um indício é que antes de fazer o primeiro empréstimo no BMG, em 24 de fevereiro de 2003, Valério repassou R$ 1,7 milhão, em 7 de janeiro de 2003, para o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Além disso, o empresário pagou cerca de R$ 500 mil em tributos - como Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF) - referentes aos empréstimos tomados nos bancos, que totalizaram mais de R$ 55 milhões.

"Não é empréstimo que o Marcos Valério fez para o PT. Ele apenas repassou o dinheiro em troca de algo", afirmou Fruet. "Ele não ia ficar com esse prejuízo de R$ 500 mil."

Em sua primeira versão, o empresário disse ter feito cinco empréstimos, totalizando R$ 50,2 milhões. Mais tarde, em depoimento à PF, informou que foram seis empréstimos, no total de R$ 55,2 milhões. Levantamentos feitos pela CPI já mostraram que grande parte dos recursos das empresas de Valério vinha de contratos com empresas estatais e o governo.

Valério negou ontem mesmo que tenha pedido a correção dos documentos contábeis das agências SMPB e DNA entregues à Receita Federal, à Procuradoria-Geral da República, à PF e à CPI. Segundo nota encaminhada por assessores, o empresário garante que na documentação completa, abrangendo o período de 2001 a 2005, estão corretamente registradas todas as operações referentes aos empréstimos feitos ao PT a pedido de Delúbio. A nota destaca ainda que, no último dia 13, o Banco Central encaminhou à da CPI um ofício que comprova a existência dos empréstimos.