Título: Maluf perde outra vez e continua preso
Autor: Fabiano Rampazzo e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Nacional, p. A17

Paulo Maluf, aos 74 anos, perdeu ontem mais uma etapa da mais difícil batalha de sua vida - a juíza federal Silvia Maria Rocha decidiu mantê-lo preso, sob acusação formal de crime contra o sistema financeiro (evasão fiscal), corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A decisão se estende a Flávio Maluf, filho mais velho do ex-prefeito, que também está detido na Custódia da Polícia Federal há 20 dias. Silvia considerou que ainda prevalecem os argumentos adotados quando da decretação da prisão dos Maluf - preservação da "higidez da instrução processual" e "magnitude da lesão causada". O ex-prefeito e seu filho já foram interrogados, seus acusadores também - o doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, e o ex-diretor financeiro da empreiteira Mendes Júnior, Simeão Damasceno -, mas as testemunhas ainda serão chamadas.

"Verifico dos autos que por ora permanecem inalterados os motivos ensejadores da prisão dos réus", despachou a juíza, que é titular da 2.ª Vara Criminal Federal, ao rejeitar pedido de revogação da custódia dos Maluf.

Ela mandou prender Paulo Maluf e seu filho no dia 9, acolhendo representação da PF e da Procuradoria da República que identificaram a conta Chanani, no Safra National Bank de Nova York - US$ 161 milhões supostamente desviados do Tesouro de São Paulo, durante a gestão Maluf (1993-1996). Interceptação telefônica da PF pegou Maluf e Flávio agindo para ocultar provas, segundo a procuradoria. O ex-prefeito foi monitorado durante 3 meses, de junho a agosto. "O bandido é o doleiro, ele é o dono da conta e réu confesso", sustenta Maluf.

A defesa argumentou que o doleiro Birigüi, que admitiu ter sido operador da Chanani, já havia prestado depoimento judicial e, portanto, não poderia mais sofrer qualquer tipo de intimidação. A defesa alegou que Birigüi não é testemunha, mas réu - ele foi denunciado criminalmente pelos procuradores federais Pedro Barbosa Pereira Neto e Rodrigo de Grandis por lavagem de dinheiro e quadrilha. Os advogados anotaram, ainda, que o doleiro contou que Flávio Maluf apenas lhe pediu que só falasse em juízo.

Os advogados dos Maluf planejam, agora, ir ao Supremo Tribunal Federal. Já tentaram reconquistar a liberdade do ex-prefeito e do filho dele por meio de habeas-corpus ao Tribunal Regional Federal e ao Superior Tribunal de Justiça, mas esbarraram em decisões que confirmaram o decreto de Silvia Rocha. A defesa também deverá pedir a transferência do ex-prefeito para o Hospital Sírio Libanês, sob alegação de que ele está com a saúde debilitada.

Ontem à tarde, enquanto aguardavam a decisão judicial, Maluf e Flávio receberam duas visitas - Jaqueline Lafayette Coutinho Maluf, mulher de Flávio, e o deputado estadual Antonio Salim Curiati (PP). "Ele (Maluf) está muito abatido", desabafou Jaqueline. "Ele está sendo torturado, não sei por quem, não é pela PF, mas está", disse Curiati. Segundo o deputado, o ex-prefeito queixou-se de dores abdominais e que sua saída do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas - onde ficou 24 horas - foi precipitada.