Título: Vírus da aids pode estar enfraquecendo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Vida&, p. A22

O vírus que causa aids pode estar ficando menos poderoso, segundo estudo divulgado pelo site da rede britânica BBC. Uma equipe do Institute of Tropical Medicine, na Antuérpia, Bélgica, comparou amostras de HIV-1 de 1986 a 1989 e de 2002 a 2003. Segundo os pesquisadores, as amostras mais novas não se multiplicaram muito bem e eram mais sensíveis às drogas. Eles compararam apenas 12 amostras de cada período e não conseguiram identificar qualquer efeito que o tratamento com drogas possa ter tido no vírus. Mas enfatizaram que a conclusão do trabalho de forma alguma significa que os esforços para prevenir a propagação da doença devem ser reduzidos.

O pesquisador Eric Artz disse que, embora o estudo seja muito preliminar, a equipe observou que os vírus dos anos 2000 são mais fracos que os dos anos 80. "O vírus ainda causa mortes, mas agora elas podem estar em uma progressão mais lenta. Talvez em 50 ou 60 anos o vírus não seja mais mortal."

Keith Alcorn, editor de um centro de informações sobre HIV, disse que antes se achava que o vírus iria ficar mais forte ao infectar as pessoas. "Agora, o que parece estar acontecendo é que, quando o HIV passa de pessoa para pessoa, seus efeitos patogênicos estão diminuindo em resposta ao sistema imunológico humano", afirmou. "Assim, o vírus que é transmitido está menos 'consistente' a cada vez."

De acordo com o pesquisador, isso sugere que, depois de muitas gerações, o HIV poderá causar menos danos em humanos. "Contudo, ainda estamos longe desse ponto. Ainda é uma infecção que ameaça a vida."

Marco Vitoria, um especialista em HIV da Organização Mundial da Saúde (OMS), disse que outras doenças, como varíola, tuberculose e sífilis, já mostraram a mesma tendência de enfraquecimento com o passar do tempo.

"Existe uma tendência natural de se alcançar um equilíbrio entre os interesses do agente e do hospedeiro, para garantir a sobrevivência simultânea por um período mais longo", disse Vitoria.

Ele alertou, porém, que o estudo não deve tranqüilizar as pessoas. "Esse tipo de mudança não pode ser medida em anos, mas sim em gerações." Vitoria também questionou a possibilidade de se chegar a essas conclusões por meio de um estudo tão pequeno.

Will Nutland, do grupo Terrence Higgins Trust, disse que o trabalho acrescenta ao debate um confuso e contraditório assunto. "Alguns estudos sugerem que as forças recentes do HIV estão mais sensíveis às drogas, enquanto outros afirmam que o vírus está mais resistente." Para ele, a pesquisa belga traz mais evidências, mas o HIV não vem mostrando sinais de que vai desaparecer em um futuro próximo.