Título: Brasil sobe de 10.º para 15.º lugar
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

O Brasil saltou do 15.º lugar, em 2003, para o 10.º no ano passado na relação dos países que mais receberam investimento direto estrangeiro (IED). O fluxo para o País cresceu 79% e atingiu US$ 18,16 bilhões. Em 2003, o Brasil recebeu US$ 10,144 bilhões. Em todo o mundo, o volume de investimento cresceu 2,5% em 2004, após 3 anos consecutivos de queda. De acordo com relatório divulgado ontem pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), esses investimentos somaram US$ 648 bilhões, ante US$ 633 bilhões em 2003. No novo ranking mundial de investimentos, o Brasil ficou abaixo da Espanha e acima da Itália. Os Estados Unidos ocupam a primeira colocação, com US$ 95,859 bilhões, superando Luxemburgo, que liderava a relação em 2003 e caiu para a quarta colocação em 2004, com US$ 57 bilhões.

Entre os países emergentes, o Brasil subiu do quarto para o terceiro lugar, superando o México, que ocupava a terceira colocação em 2003. A China e Hong Kong mantiveram o primeiro e o segundo lugares, respectivamente.

Para o embaixador Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e ex- diretor da Unctad, que participou da divulgação do relatório em São Paulo, o principal fator que explica o bom desempenho do Brasil na atração de investimentos estrangeiros é o tamanho do seu mercado consumidor: "Somos um país que cresce menos que a média mundial e muito abaixo da média dos emergentes, mas é o crescimento de uma massa grande, o que ainda tem forte apelo entre os investidores". Ele citou ainda a estabilidade na legislação e o alto grau de abertura ao capital estrangeiro.

Ricupero disse que não se pode fazer uma relação entre o movimento do IED para o Brasil e o ranking de competitividade divulgado quarta-feira pelo Fórum Econômico Mundial. Por causa do ambiente político, o País despencou oito posições na lista, passando da 57.ª para a 65.ª colocação entre 117 países avaliados. "Não acho que esse índice seja a esquadra inglesa. Ele traz embutido muito viés ideológico e até um certo ponto não é objetivo e nem sempre reflete a realidade dos países", afirmou.

Na avaliação de John Mein, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos das Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), responsável pela divulgação do relatório da Unctad no Brasil, o País deverá atrair mais de US$ 17 bilhões este ano, montante próximo dos US$ 18,16 bilhões de 2004.

Se isso se confirmar, será um ótimo resultado, diz o presidente da Sobeet. Ele observa que o volume do ano passado incluiu o ingresso de parte do pagamento pela compra do controle acionário da AmBev pelo grupo belga Interbrew. Só essa operação garantiu a entrada de cerca de US$ 4,9 bilhões em investimentos estrangeiros no País em 2004.

Ricupero disse que alguns fatores permitem prever que o País continue atraindo investimentos estrangeiros crescentes nos próximos anos, entre eles as Parcerias Público-Privadas (PPPs). "A expectativa é que o processo se acelere e se transforme numa fonte de atração de investimentos de fora".

PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

O relatório da Unctad destaca que o fluxo de investimentos estrangeiros para os países em desenvolvimento deram um salto de 40% em relação a 2003, somando US$ 268,1 bilhões. Já os recursos para os países desenvolvidos tiveram queda de 14%, para US$ 380 bilhões.

Isso indica que os países em desenvolvimento receberam 41,4% de todo o investimento direto aplicado no mundo em 2004. Para a Sobeet, entre as razões que explicam o aumento do interesse em investir nos países em desenvolvimento está a queda do risco país. Além disso, as empresas transnacionais buscam mercados mais dinâmicos e economias de escala em fábricas com menores custos, que são encontradas entre os emergentes.

No caso da América Latina, o IED cresceu 44%, para US$ 68 bilhões, depois de 4 anos de queda. O Brasil foi recebeu o maior volume,de US$ 18,16 bilhões, equivalente a 27% do total. O México ficou em segundo lugar, com 25% (US$ 16,6 bilhões). Mas em termos porcentuais, o maior crescimento, de 125%, foi da Argentina, que recebeu US$ 4,3 bilhões no ano passado, ante US$ 1,9 bilhão em 2003.

O relatório mostrou ainda que as empresas transnacionais brasileiras investiram US$ 9,5 bilhões no exterior. Foi a maior participação nos investimentos feitos pela América Latina e Caribe, que somaram US$ 11 bilhões.