Título: BC reduz de 3,7% para 3,5% a estimativa de inflação de 2006
Autor: Adriana Fernandes e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2005, Economia & Negócios, p. B6

O Banco Central (BC) reduziu de 3,7% para 3,5% a projeção de inflação para 2006 e reforçou a aposta dos analistas de que há espaço para maior queda dos juros até o fim do ano. Como a nova projeção está bem abaixo da meta de 4,5% fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o mercado passou a trabalhar com a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) será mais agressivo na reunião de outubro e cortará em 0,5 ponto porcentual a taxa Selic, dos atuais 19,50% para 19% ao ano.

Como antecipou o Estado, no relatório de inflação do terceiro trimestre, divulgado ontem, os diretores do BC traçaram um cenário muito favorável para a inflação em 2005 e 2006. No documento, o BC informa que a projeção do IPCA de 2005 caiu de 5,8% para 5%, valor que já se encontra abaixo da meta de 5,1%.

Foi a primeira vez que a projeção do BC para a inflação deste ano convergiu para a meta, depois do longo ciclo de alta de juros iniciado em setembro de 2004. Pela primeira vez também, as projeções do BC ficaram mais próximas das do mercado, feitas com base nas expectativa de juros e taxa de câmbio dos analistas. Nesse cenário, a projeção de IPCA de 2005 caiu de 6,3% para 5,2%. Mas, para 2006, subiu de 4,7% para 4,8%.

Ao divulgar os números, o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, respondeu às críticas de que altas doses de juros não são remédio para o aumento dos preços. Ele afirmou que a queda da inflação nos últimos três meses deve ser atribuída "fundamentalmente" à ação da política monetária. "O comportamento dos preços mostra que as pressões inflacionárias parecem superadas e as incertezas em relação à trajetória futura da inflação estão dissipadas", comemorou.

Ele admitiu também que a queda foi favorecida pela redução dos preços dos alimentos em intensidade superior ao normal. Entre junho e agosto, caíram 3,04%. Mas fez um alerta: essa redução se deve a fatores pontuais, que podem não se repetir no médio prazo. Também contribuiu para o recuo do IPCA a valorização do câmbio, que favoreceu a queda das projeções de alta dos preços administrados, como telefonia e energia. Esses preços são corrigidos pelo IGP-DI, que tem grande influência do câmbio.

O diretor do BC aproveitou para alfinetar os "pessimistas", que no início do ano previam perda de dinamismo do crescimento econômico em razão da alta de juros. Segundo ele, "não foi o que ocorreu. Para Beviláqua, a economia continuará crescendo nos próximos trimestres, embora menos que no segundo, quando o PIB teve expansão anualizada de 5,7%.

O BC manteve, no relatório, a projeção de expansão do PIB de 3,4% este ano, apesar de vários membros do governo, depois da divulgação dos dados do segundo trimestre, terem afirmado que ela seria elevada. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, chegou a afirmar que iria crescer mais de 4% neste ano.