Título: Danelon admite: recebeu R$ 30 mil da máfia das apostas
Autor: Marcos Rogério Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2005, Esporte, p. E1

O ex-árbitro João Paulo Araújo revelou ontem ter sido procurado há quatro meses, por meio de telefonema anônimo, para participar de esquema de manipulação de resultados de jogos. "Não posso afirmar que era gente dessa quadrilha do Edilson Pereira de Carvalho, mas me ofereceram de R$ 20 mil a R$ 30 mil por semana para cooptar outros árbitros para a operação e para estreitar os laços com as comissões de arbitragem", contou o atualmente professor de educação física e, de 2001 a 2004, secretário de Esportes de Piracicaba. A pessoa não quis se identificar. Araújo tem certeza, porém, que a voz não era a de Edilson Pereira nem a de Paulo José Danelon, ambos acusados de pertencer à Máfia do Apito. O interlocutor também não disse o motivo de ter ido atrás do ex-árbitro, mas deixou claro que sabia de vários detalhes de sua vida, como o nome dos filhos e de sua intenção, na época, de comprar um carro novo.

Não pôde ser identificada a origem da ligação, que durou cerca de dez minutos e foi feita para o telefone do trabalho de Araújo, na Escola de Engenharia de Piracicaba. "Não sei onde ele morava, não me respondeu isso quando eu perguntei", recorda. "Só falou quanto eu receberia e comentou ainda que contavam comigo para chegar em integrantes das comissões de arbitragem do Rio e de São Paulo." Segundo o ex-árbitro, aposentado na função desde 1997, sabiam que ele é figura conhecida no futebol e esperavam que convencesse aquelas entidaddes oferecendo até R$ 80 mil por semana a seus dirigentes.

Araújo diz só ter estendido a conversa na tentativa de descobrir quem estaria por trás da ligação. "Tive 16 anos de carreira sem qualquer mancha, nunca aceitei participar de esquemas", defendeu-se. "Assim que falou nos valores e vi que não se identificaria, cortei o assunto e disse não estar interessado."

Chateado com a proposta, Araújo entretanto não apresentou nenhuma denúncia. Primeiro porque teve receio de fazerem algo com ele ou com sua família. Depois, "porque sabia que essas coisas aconteciam sempre no futebol". Ele explica: "Fui bandeirinha e juiz, e cansei de ver gente ir atrás de árbitro para comprar jogo. Dirigente oferecer dinheiro era prática comum na década de 80 principalmente", revelou. "Mas jamais admiti que se aproximassem de mim", complementou.

Araújo não se incomoda com a hipótese de aquela conversa ter sido detectada nos grampos feitos pelo Ministério Público de São Paulo. "Se ouvirem o que eu falei, vão perceber que não tenho nenhuma relação com a quadrilha", disse. "Ao contrário, repudiei o convite."