Título: Quando o Katrina chegou, força cuidou antes dos seus
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2005, Internacional, p. A20

Na manhã em que o furacão Katrina atingiu a terra, os comandantes da Guarda Nacional da Louisiana se consideravam preparados para salvar seu Estado. Mas quando as águas da inundação com 4,5 metros de profundidade inundaram seu quartel-general, cortaram suas comunicações e avariaram seus caminhões especiais para trafegar em terrenos inundados, eles ficaram inteiramente absorvidos pela missão de salvar a própria pele. Eles dizem que num período de 24 horas cruciais após a inundação, ficaram ocupados protegendo seu centro nervoso das ondas que atingiam as janelas em Jackson Barracks e salvando soldados que não sabiam nadar. Na manhã seguinte, tiveram de retirar todos os 375 integrantes da força dos escritórios por barco e helicóptero para o Superdome.

Foi um começo pouco auspicioso para a resposta da Guarda Nacional à tormenta que, de tão precária, provocou um debate nacional sobre se o Pentágono deve agir prontamente depois de catástrofes. O presidente George W. Bush pediu ao Congresso para estudar e debater a questão.

Em entrevistas, comandantes da Guarda Nacional e autoridades estaduais e locais na Louisiana, como o chefe da polícia, Eddie Compass (que ontem pediu demissão), disseram que a corporação cumpriu bem a tarefa naquelas circunstâncias. Mas afirmam também que ela foi prejudicada nos primeiros dias pela severa escassez de tropas - que atribuem, em parte, à mobilização em operações no Iraque de 3.200 guardas da Louisiana -, além de caminhões especiais, telefones via satélite e outros equipamentos. Apesar da discordância do Pentágono sobre o peso do Iraque na questão, as autoridades locais dizem que a guerra claramente esvaziou uma força designada para ser um baluarte da nação contra desastres naturais e ataques terroristas.

Os reforços de unidades da Guarda Nacional de outros Estados, retardados pela logística e a burocracia envolvidas na convocação de tropas de tarefas civis e o deslocamento por milhares de quilômetros, só chegaram em grande quantidade no quarto dia depois da passagem do Katrina. O trabalho de coordenação foi tão atrapalhado que autoridades da Louisiana recorreram ao Pentágono para organizar o pedido de ajuda.

No centro de convenções, 222 soldados treinados mais para reparos de diques trancaram-se num hall de exposições do centro em vez de agir para conter os arruaceiros misturados à multidão de mais de 10 mil vítimas do furacão que estava no centro.

O colapso quase total das comunicações tornou cada tarefa muito mais difícil. Com as linhas telefônicas fixas, os celulares e parte dos telefones via satélite fora de ação, as freqüências usadas pelos rádios ainda em funcionamento ficavam muitas vezes tão engarrafadas que não serviam para nada.

Para especialistas em desastres, mesmo com um planejamento e uma administração perfeitos, os 5.700 soldados da Guarda Nacional da Louisiana seriam muito insuficientes para a tarefa.