Título: Bush perde chefe de tropa de choque
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2005, Internacional, p. A20

O indiciamento por crime de corrupção eleitoral do líder da bancada republicana na Câmara de Deputados, Tom DeLay, do Texas, ontem, privou o presidente George W. Bush do chefe de sua tropa de choque no Congresso e criou um novo problema para uma administração cada dia mais impopular. DeLay, de 58 anos, que começou a carreira como deputado estadual e está na Câmara há mais de vinte anos, afastou-se imediatamente da função de líder. "Não fiz nada de errado", defendeu-se ele, dizendo que a acusação não passa de vingança política orquestrada pelo promotor texano Ronnie Earle, que é democrata. Na década passada, quando o Partido Democrata dava as ordens em Austin, Earle iniciou várias investigações criminais contra líderes políticos, alguns dos quais foram condenados e cumpriram pena. A punição para o crime de que DeLay é acusado é de 6 meses a 2 anos e multa de até US$ 10 mil. O deputado e dois cabos eleitorais, John Colyandro e Jim Ellis, foram acusados por um júri de instrução de crime de formação de quadrilha para violar lei eleitoral do Texas que proíbe empresas e sindicatos de contribuir para campanhas de candidatos a cargos eletivos estaduais. Segundo o promotor, eles conspiraram para lavar US$ 190 mil em contribuições de empresas ao Comitê Republicano Nacional, em Washington, para as campanhas de nove deputados estaduais nas eleições de 2002. A eleição dos beneficiados garantiu aos republicanos o controle da assembléia legislativa, com uma importante conseqüência: no mapeamento dos 435 distritos eleitorais representados na Câmara, que é feito a cada dez anos com base no censo, os conservadores controlaram o redesenho dos distritos. Graças à nova configuração, nas eleições gerais do ano passado, eles ganharam seis cadeiras de deputados, consolidando sua maioria na Câmara.

O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, disse ontem que o presidente George W. Bush continua a considerar DeLay "um grande aliado" e "um líder eficaz" no Capitólio. O deputado Roy Blunt, ex-governador do Missouri, assumiu o comando da bancada conservadora. Analistas dos dois partidos concordaram ontem que Bush assumiu um risco ao não se distanciar do deputado. No ano passado, quando um cabo eleitoral de DeLay, no Texas, foi indiciado por violação da lei de financiamento de campanha, o deputado conseguiu suspender temporariamente uma norma do regimento interno da bancada que proíbe parlamentares a ocupar posições de liderança enquanto respondem a processos criminais.

Anteriormente, DeLay já havia sido admoestado três vezes pela comissão de ética da Câmara, numa delas por aceitar viagens de lazer pagas pelo lobista Jack Abramoff e apresentadas como missões oficiais.

No dia 20, David Safavian, que administrava um orçamento de US$ 300 bilhões em compras governamentais na Casa Branca, foi preso pelo FBI, sob a acusação de ter mentido e tentado obstruir investigações em curso sobre Abramoff.