Título: Para Berzoini, partido não vai punir acusados
Autor: Wilson Tosta João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2005, Nacional, p. A4

Ele diz que eleição serviu de julgamento político e houve crédito de confiança aos citados em CPI

O candidato do Campo Majoritário à presidência do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), deu sinais ontem de que o Processo de Eleição Direta, que elegeu a nova direção e foi vencido por sua chapa, poderá ajudar os parlamentares petistas acusados no escândalo do mensalão a escapar de punições no partido. Berzoini disse que os processos da Justiça e da legenda apuram aspectos diferentes de cada caso, sem ter seus resultados ligados: uma condenação judicial não significará, necessariamente, punição no PT, "e vice-versa". Ele também assinalou que alguns acusados tiveram bons resultados em suas bases na eleição petista, embora isso não melhore nem piore a sua situação. "A Justiça apura a legalidade ou ilegalidade, o partido apura quebra de decoro ou de ética partidária", disse. "Não vamos tentar misturar uma questão de legalidade com a situação partidária de cada um. A situação partidária vai ser examinada no momento apropriado, através dos fóruns próprios do partido." Segundo Berzoini, deputados petistas acusados tiveram, no PED, "um julgamento político dentro do partido".

"E nesse julgamento político, em vários locais, houve decisão dos filiados de dar um crédito de confiança, no caso de algumas cidades", ressaltou. "Não quero entrar no mérito se o crédito de confiança está plenamente correto ou não. Mas o processo de apuração no Congresso vai determinar o rumo político dessa situação. Não podemos condicionar a militância de milhares de pessoas a um eventual julgamento político ou jurídico de algumas pessoas que têm história no partido, ajudaram a construir o partido e estão agora acusadas de questões específicas."

Berzoini assinalou que, até agora, em sua avaliação, não há provas de corrupção contra os petistas acusados. "Depois de 100 dias de apuração, com três CPIs, corregedoria, Conselho de Ética, Ministério Público, Polícia Federal e a imprensa apurando, não há qualquer prova de corrupção nesse caso. "Há assunção de caixa 2, que é ilegalidade, mas não é corrupção."

O deputado analisou o caso de Osasco, onde o deputado João Paulo Cunha (SP), um dos acusados, conseguiu eleger sua candidata, Rosemeri Emeri Lima, presidente do PT municipal, mas assinalou que a vitória não altera a situação partidária do deputado. "A hegemonia de Osasco não é exercida por um parlamentar, é exercida por um grupo de pessoas."

Ele lamentou a desfiliação de petistas, anunciada ontem, mas criticou a iniciativa. "Algumas dessas pessoas já tinham anunciado, antes do processo eleitoral, que não ficariam no partido. Me parece um comportamento antidemocrático."