Título: PT perde esquerda histórica e maior bancada na Câmara
Autor: Wilson Tosta João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2005, Nacional, p. A4

Plínio de Arruda Sampaio, Hélio Bicudo e os deputados Ivan Valente, Maninha, Orlando Fantazzini e Chico Alencar deixam partido

O PT foi abandonado ontem por duas de suas figuras históricas, deixou de ter a maior bancada de deputados na Câmara - superado agora pelo PMDB -, perdeu pelo menos 15 deputados estaduais e vereadores, alguns importantes dirigentes partidários e descobriu, feitas as primeiras contas, que a insatisfação geral dentro do partido deve custar ainda a deserção de cerca de mil militantes. A segunda-feira negra petista começou com o anúncio de saída de dois de seus fundadores, Hélio Bicudo e Plínio de Arruda Sampaio. Na Câmara dos Deputados, o inconformismo com o resultado das eleições internas do partido levou embora Ivan Valente (SP), Maria José Maninha (DF) e Orlando Fantazzini (SP). Hoje o deputado Chico Alencar (RJ) também formaliza sua saída. Com isso, a bancada petista na Câmara cai de 88 para 84 parlamentares, contra 87 do PMDB. Esse número pode cair ainda mais: Nazareno Fonteles (PI) e Paulo Rubem Santiago (PE) decidem hoje se acompanham os quatro companheiros, o que poderá deixar o PT com 82 deputados. O caminho é o PSOL, da senadora Heloisa Helena (AL).

"É uma situação dramática, não tenho nem dormido, o PT é meio religião", disse Chico Alencar, dando sinais de abatimento. "A saída para o PSOL será na perspectiva de um partido amplo, não-sectário."

(Após uma plenária, no sábado, com 250 militantes, e consultas feitas na rua e pela internet, o deputado avisou ontem que sua "tendência" é deixar o petismo, mas disse querer fazer da desfiliação um ato coletivo.) "O Campo Majoritário (grupo de tendências moderadas que há dez anos dirige o PT) vai continuar tendo a maioria no Diretório Nacional", disse o deputado. "E o Movimento PT (tendência de centro) sempre fecha com eles."

O ex-líder Walter Pinheiro (BA) diz-se angustiado. Mas é possível que permaneça no PT. Por dois motivos: Raul Pont, candidato a presidente da legenda pela Democracia Socialista (DS), à qual pertence Pinheiro, vai disputar o segundo turno da eleição petista, no dia 9 de outubro; e suas bases, na Bahia, não concordam com a saída. Querem que ele permaneça no PT, porque consideram que é o candidato que mais puxa votos em Salvador.

Chico Alencar, Valente, Maninha e Fantazzini juntam-se a João Alfredo (CE), que saiu no sábado, e a João Batista Araújo, o Babá (PA), e Luciana Genro (RS), que foram expulsos do PT em dezembro de 2003.

André Costa (RJ), que saiu do PT há 15 dias, preferiu o PDT, mesmo caminho feito por João Fontes (SE), outro que foi expulso no final de 2003. O senador Cristovam Buarque (DF), ex-ministro da Educação do governo petista, também preferiu o PDT.

Já o senador Roberto Saturnino Braga (RJ), que tinha decidido sair, e chegou a ser convidado a voltar ao PDT, desistiu da idéia. Vai ficar no PT.

A parlamentares que indagaram qual rumo tomaria, Saturnino disse que já está muito velho para ficar trocando de partido. E manifestou, ainda, seu entusiasmo pela participação dos petistas no processo de eleição direta para a presidência e escolha do diretório do partido, em curso. "Não há dúvidas de que o PT é um partido de massas", comentou Saturnino.

SEM AMBIENTE

Maninha disse que saiu do PT porque não tinha mais ambiente no partido. "Há muito tempo temos divergências internas. Fui punida inúmeras vezes por votar contra a orientação do partido", lembrou ela.

Disse que vai votar pela cassação dos parlamentares petistas que se envolveram no esquema do mensalão. "Me pergunto: como o partido se comportará quando dissermos que vamos votar pela cassação de alguns deputados do PT?" Maninha disse ainda que não tem esperanças de que as divergências com o governo, por causa da política econômica, diminuam. "Isso não vai acontecer, porque o governo não vai mudar a sua política econômica nem sua linha política".

A idéia de deixar o PT alimentava alguns deputados da esquerda petista havia pelo menos dois meses. Eles só não saíram antes porque decidiram esperar o resultado da eleição para a cúpula petista.

Passada essa etapa, nem esperam para fortalecer o candidato da esquerda, Raul Pont, que disputará a presidência do partido com Ricardo Berzoini, do Campo Majoritário, o grupo do deputado José Dirceu (SP). Como o prazo de troca de partido para que os que desejam se candidatar no ano que vem termina na sexta-feira, eles optaram pela saída nesta semana.