Título: Verba liberada em setembro supera total dos oito meses anteriores
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2005, Nacional, p. A6

Empenhado em se recuperar da crise política e reconquistar a presidência da Câmara, o governo acelerou a liberação de recursos para atender às emendas feitas pelos parlamentares ao orçamento da União. De acordo com levantamento realizado pela assessoria técnica do PFL, o ritmo de atendimento às emendas ganhou velocidade neste mês, quando ficou claro que o ex-deputado Severino Cavalcanti deixaria o comando da Câmara. Até a sexta-feira, tinham sido liberados só em setembro R$ 72,4 milhões para as emendas, normalmente destinadas a custear obras paroquiais nas bases eleitorais dos deputados. O valor é superior ao total liberado nos oito meses anteriores, entre janeiro e agosto, que foi de R$ 67,0 milhões.

Com o objetivo de impulsionar a candidatura do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) à presidência da Câmara, o governo já anunciou que vai liberar a partir de agora mais R$ 500 milhões para as despesas de autoria de deputados e senadores. A oposição torce para que essa promessa não consiga se transformar em votos para o candidato governista.

"Não creio que esse tipo de estratégia tenha credibilidade", diz o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), partidário da candidatura de José Thomaz Nonô (PFL-AL). "Na hora de votar, os deputados vão considerar isso apenas o cumprimento de um compromisso não honrado no passado."

Em 2005, o valor até agora liberado - ou empenhado, no jargão orçamentário - equivale a apenas 13,3% do total previsto no orçamento para emendas estritamente individuais. Os partidos governistas têm sido, como de praxe, os mais beneficiados pelos recursos.

O PT e o PMDB lideram a lista dos valores empenhados, com R$ 25,2 milhões e R$ 22,9 milhões respectivamente, mas é entre os menores partidos da base que se verifica os maiores porcentuais de liberação: PTB com 22,82%, PSB com 21,73%, PC do B com 19,87% e PP com 19,74%. São justamente essas as siglas mais visadas na disputa pela presidência da Câmara.

"No geral, os valores liberados são muito baixos, mesmo para a base governista. Não adianta acenar com novas liberações, às vésperas das eleições, porque a campanha é curta e ninguém acredita mais em promessas", avalia o deputado Pauderney Avelino (PFL-AM).

No ano passado, o governo também anunciou diversas liberações de recursos para as emendas. Até o fim de 2004, houve empenho de R$ 641,4 milhões para essas despesas, mas só R$ 150,5 milhões foram pagos efetivamente.