Título: Por Aldo, Lula fala até em reforma ministerial
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2005, Nacional, p. A6

Planalto não admite ameaça à equipe, mas cobra esforço de todos na eleição da Câmara

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou de cabeça na guerra para fazer do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), seu ex-ministro da Coordenação Política, o novo presidente da Câmara, e acena até com uma reforma ministerial para cabalar votos entre os parlamentares dos partidos aliados que têm pastas na Esplanada. Na reunião de coordenação política de ontem, a equipe de Lula estudou vários cenários, entre eles até a vitória de Aldo no primeiro turno. Da reunião, sai a certeza de que a eleição na Câmara desenhará o tamanho e a composição da nova base governista e os ministérios têm de refletir essa base.

Isso pode significar inclusive a perda de ministérios, no caso de partidos que não apóiem o Planalto, apesar de Lula já ter dito que queria ir com estes ministros até o fim do mandato.

O Planalto não admite que esteja ameaçando os ministros, mas recomendou que todos se esforcem para a eleição de Aldo.

No fim do dia ontem, as contas no Planalto indicavam que Aldo tem assegurados pelo menos 180 votos no primeiro turno e pode chegar a 260, o que lhe daria a vitória no primeiro turno.

O governo acha que pode fechar os votos do PT, do PC do B e do PSB, contar com 60 ou 70 dos 144 votos do PTB, do PL e do PP, e pelo menos 40 dos 87 votos do PMDB ¿ e acredita que possa ampliar esta margem.

Acrescenta a esta soma votos de deputados do PV ligados a Zequinha Sarney, do PDT, e do PPS, além de alguns sem partido. Conta até com possíveis votos no PFL e no PSDB, mas este número não faz parte da contabilidade oficial. A hipótese de ganhar em primeiro turno leva em conta a desistência de candidatos de partidos menores.

O governo convocou ministros parlamentares e até os sem mandato que têm fortes aliados, como Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário, para trabalhar as alas mais à esquerda dos partidos. O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, e o próprio Aldo fazem trabalho de formiguinha para buscar apoios.

Eles comemoraram a recepção que Aldo teve no PT e a reversão de muitos votos no partido, considerados perdidos com a saída de Arlindo Chinaglia (PT-SP) da disputa.

Márcio Fortes (Integração Nacional), que está na Esplanada pelo PP, também foi chamado a arregaçar as mangas, bem como os três ministros do PMDB. A lógica é de que todos têm de se mobilizar porque este é um prenúncio de 2006 e o governo precisa garantir esta vitória para demonstrar força e reordenação da base.

Daí a avaliação de que, se mudarem as forças que apóiam o governo no Congresso, a mudança terá de se refletir nos ministérios.

Lula estava otimista, segundo interlocutores, e confiante de que desta vez as coisas serão diferentes de fevereiro, quando o governo foi surpreendido com a vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE).

Um dos argumentos para o otimismo é que o oposicionista José Thomaz Nonô (PFL-AL) não conseguiu apoios explícitos e novos nomes de concorrentes se registraram, o que dificulta a situação dele.