Título: Debandada de militantes petistas pode garantir mil filiações ao PSOL
Autor: Guilherme Evelin , Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2005, Nacional, p. A5

'Decisão de saída é um ato unilateral', diz Tarso Gerno Plínio foi seguido pela Ação Popular Socialista, deputados e vereadores; sindicalistas e líderes de movimentos são próximos alvos

CONSCIÊNCIA: O presidente do PT, Tarso Genro, divulgou nota ontem sobre a desfiliação de alguns membros de seu partido, incluindo Plínio de Arruda Sampaio e deputados. "A decisão de saída de um partido é um ato de consciência, logo, uma tomada de posição unilateral de quem se retira de uma agremiação", diz. "Desejamos aos companheiros que estão buscando outra sigla para sua militância que realizem seu desejo de contribuir de forma mais eficaz para a construção de um país melhor. Da nossa parte, continuaremos construindo o PT e buscando resgatar o desejo de mudança e de justiça social que o partido sempre representou." Guilherme Evelin Mariana Caetano O PT "esgotou seu papel como instrumento de transformação da realidade brasileira". As eleições internas de 18 de setembro não foram capazes de alterar a correlação de forças e devolver o partido às suas origens, à defesa dos interesses dos trabalhadores. Esse diagnóstico duro levou o quarto-colocado na sucessão presidencial petista e autor do primeiro estatuto da legenda, Plínio de Arruda Sampaio, a liderar um movimento de desfiliações em massa do PT ontem.

Com ele deixam o partido toda a corrente Ação Popular Socialista, à qual é ligado o deputado federal Ivan Valente (SP), deputados estaduais e vereadores em vários Estados. O secretário nacional de Movimentos Populares do PT, Jorge Almeida, também oficializou sua saída do partido. A maioria deixa a legenda rumo ao PSOL da senadora Heloísa Helena (AL). E correligionários já planejam lançar Plínio à sucessão de Alckmin.

"Saímos tristes, mas não vemos alternativa", resumiu Ivan Valente. "Dos 40 mil votos que recebemos dos filiados do PT, certamente parte sairá conosco." Para o grupo, o Campo Majoritário, que domina o partido há uma década, manipulou a realização das eleições internas - impôs sucessivos adiamentos e jogou o processo de renovação das direções para às vésperas da data de desincompatibilização partidária, na próxima sexta-feira. Isso teria "obrigado" quem tem mandato e deseja se candidatar em a deixar o PT antes da realização do segundo turno presidencial, no dia 9 de outubro. Plínio fez questão de negar que tivesse "traído" seus eleitores. "Em todos os debates que participei, deixei claro que as eleições eram um teste para o PT", disse.

O movimento liderado por ele deve levar à desfiliação de mais mil militantes de base do PT, sem contar parlamentares. São sindicalistas e lideranças de movimentos sociais, segundo estimativa de uma das articuladoras da debandada, Bernardete de Menezes, ex-vereadora em Porto Alegre e integrante da executiva nacional da CUT.

No último fim de semana, o movimento conquistou a adesão de cerca de 400 dirigentes sindicais de 20 Estados, ligados à esquerda da CUT e a sindicatos do setor público. Na próxima sexta-feira, nova reunião ocorrerá em Porto Alegre. "O movimento social e sindical têm sido as primeiras vítimas da política econômica do governo Lula", alega Bernardete, ligada ao sindicato de servidores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS).

Amigo de Plínio, o jurista Hélio Bicudo, ex-deputado federal e ex-vice-prefeito de São Paulo, teve também a sua desfiliação anunciada ontem, mas disse que a sua decisão de sair do PT já havia sido tomada muito antes das eleições petistas. "Decidi sair quando o Lula refez pela terceira vez o seu ministério e, em vez de chamar pessoas de alta respeitabilidade e capacidade, preferiu mais uma vez lotear o seu governo. Não havia mais chance de retomar as metas pelas quais ele foi eleito", disse Bicudo.

SEGUNDO TURNO

A deserção em massa suscitou críticas do candidato do Campo Majoritário, deputado Ricardo Berzoini (SP), e do seu provável rival, deputado estadual Raul Pont (RS), no 2.º turno da disputa pela presidência do PT. "Não é atitude democrática, porque o Plínio só resolveu sair depois de perder a eleição", disse Berzoini. "Mas tenho certeza de que a maioria dos seus eleitores não vai segui-lo e vai ficar no PT". Pont, em nota, classificou a atitude de desfiliação de "equivocada". "Um erro político que conduz à dispersão, à atomização da esquerda."

Pont terá o apoio das correntes que apoiaram Plínio, participaram da chapa Esperança Militante, mas decidiram permanecer no partido, Brasil Socialista e Fórum Socialista. Estas correntes deverão indicar 2 integrantes da nova executiva do PT e 7 membros do Diretório Nacional. O PT anuncia hoje os resultados finais da eleição do dia 18. O segundo turno da disputa presidencial está marcado para 9 de outubro.