Título: Vitória nasceu da barganha com PP, PL e PTB
Autor: João Domingos e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2005, Nacional, p. A4

PODER: Quem tem o Diário Oficial, tem o poder. Para emplacar Aldo Rebelo presidente da Câmara, o Planalto barganhou com os partidos aliados. Apurado o primeiro turno, verificou-se, nas conversas de bastidores, que o governo barganhou com PP, PL e PTB para levar o maior número de seus votos para Aldo. A compensação às bancadas, sobretudo à do PP, seria a possibilidade de nomear quadros do partido para os principais cargos do Ministério das Cidades, hoje dirigido pelo ministro Márcio Fortes, indicado pelo ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE).

Na base é comum a reclamação de que o governo não entrega ministérios negociados com os partidos de 'porteira fechada': os cargos-chave continuam feudos petistas. João Caldas (PL-AL) disse que o Planalto cedeu ao PP e ao PL e 'vai tirar aqueles petistas tudinho do ministério'. 'O governo arriou as calças bonitinho', emendou, tangenciando a falta de decoro.

Na busca dos votos dos derrotados no primeiro turno, Aldo recorreu até ao ex-presidente da Casa Severino Cavalcanti, para quem ligou assim que acabou a apuração. Mera formalidade: emendas para a região de Severino em Pernambuco já tinham o sinal verde do Planalto. Moeda de troca típica da política, a concessão de rádios foi posta sobre a mesa; processos emperrados começaram a andar.

A oposição também fez barganhas. A certa altura, Ronaldo Caiado (PFL-GO) saiu em busca de um colega que teria a missão de convencer Ciro Nogueira (PP-PI)a apoiar Nonô em troca do seu lugar na primeira vice-presidência, que ficaria vaga no caso de sua vitória.

Na liderança do PFL, Laura Carneiro (RJ) apelava a um colega recém-cassado: 'Bob, você tem que convencer seu pessoal do PTB porque tem gente que vai votar no Aldo', pediu. O Bob em questão era o ex-deputado Roberto Jefferson, que, chefe de um acuado PTB, pouco pôde fazer.