Título: Custo político poderá ser alto
Autor: João Domingos e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2005, Nacional, p. A4

A pequena margem de votos obtidos pelo ex-ministroAldoRebelosobreooposicionista José Thomas mostrou um plenário dividido e umgovernosemmaioriaparlamentar. A interferência do Palácio do Planalto no processo eleitoral pode ter lhe dado a vitória aritmética, mas não a vitória política, segundo avaliam parlamentares experientes - até mesmo alguns integrantesda bancada do PT - e que se diziam escandalizados com a pressão que o governo exerceu sobre as bancadas da antiga base aliada.

O efeito dessa interferência poderáseroaumentodaradicalização política. Segundo os parlamentares que fazem essa avaliação, o aumento do conflito será uma resposta à conquista da presidência da Câmara com base nos mesmos métodos que deram origem ao escândalo da mensalão. O novo presidente terá como primeiro desafio, por conseguinte, enfrentar um quadro crescente de luta contra uma oposição fortalecida e sem dispor de instrumentos para normalizar o processo decisório da Casa.

Segundo disse um alto dirigente da oposição, a interferência ostensiva no processo eleitoral da Câmara será fortemente questionado. Nesse caso, observou ele, teria sido melhor para o governo ter se conformado com a eventual eleição de ThomazNonô,cujomandatonãoseria questionado, e obtido dele o compromisso de uma conduta estritamente institucional.

Nonônãoserecusariaaessepapel e poderia transformar-se em fator decisivo, senão para a superação, ao menos para a suavização da crise política.

Além disso, concluiu o dirigente, esse fato produziria na opinião pública expectativa mais positiva sobre a condução dos julgamentos políticos de parlamentares ainda a serem feitos.

Desse ponto de vista, os episódios que cercaram a eleição de Aldo Rebelo podem ter impacto negativo.