Título: Máquina do governo funciona e Aldo vence Nonô por 15 votos
Autor: João Domingos e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2005, Nacional, p. A4

No mais fiel estilo da barganha política, com liberação de verbas que somam pelo menos R$ 1,515 bilhão e promessa de mais cargos aos partidos atingidos pelo escândalo do mensalão, o governo conseguiu ontem eleger o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) para a presidência da Câmara. Apesar do toma-lá-dá-cá, foi uma vitória apertada: Aldo bateu o deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL) no segundo turno por uma diferença de apenas 15 votos. Aldo teve 258 votos contra 243 de Nonô, mais 6 em branco e 2 nulos. No primeiro turno, os dois tinham empatado, ambos com 182 votos. Para garantir apoio a Aldo, ex-ministro da Coordenação Política, o Planalto prometeu liberar R$ 680 milhões de um total de R$ 1 bilhão para o Ministério dos Transportes, comandado por Alfredo Nascimento, do PL. Mais: devolver ao PTB os cargos nos segundo e terceiro escalões que o partido perdeu depois das denúncias de corrupção no governo feitas pelo ex-deputado Roberto Jefferson (RJ).

A artilharia pesada do governo não parou aí: das fileiras do PTB, o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, jurou que o governo vai liberar R$ 335 milhões para a pasta. A verba faz parte de um total de quase R$ 500 milhões, sendo R$ 163 milhões para as emendas de parlamentares - 30% deles do PTB - ao Orçamento. Na semana passada, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, já havia autorizado o pagamento de R$ 500 milhões em emendas.

A estratégia produziu dividendos. Ao deixar a reunião com a bancada do PTB, no fim da tarde, Mares Guia assegurou que pelo menos 80% dos 46 deputados do partido votariam em Aldo. No primeiro turno, o PTB manteve a candidatura de Luiz Antônio Fleury Filho (SP).

"Foi um jogo muito pesado do governo", afirmou o deputado Michel Temer (PMDB-SP), que desistiu da candidatura para apoiar Nonô.

A oposição acusou o Planalto de acenar até mesmo com a promessa de negociar indulto a deputados do PP envolvidos no escândalo do mensalão, na tentativa de atrair os votos do partido de Severino Cavalcanti, o presidente da Câmara que renunciou ao mandato para escapar da cassação.

"Isso não tem o menor cabimento" , disse o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner, desmentindo também que o governo vá entregar mais um ministério para o PP de Severino ou para o PTB do ex-deputado Roberto Jefferson. "Não vendi a alma nem vendi cargo ou ministério. A liberação das emendas segue o cronograma estabelecido. Estou tranqüilo porque não fiz nada que possa comprometer o governo ou a eleição."

Wagner passou o dia de ontem pendurado no telefone, pedindo votos para Aldo. Às 16h40, ligou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava em Eunápolis, na Bahia, e o informou sobre a passagem de Aldo para o segundo turno. "Eu já contava com a vitória dele", afirmou Lula.

No discurso do segundo turno, Nonô atacou as andanças de ministros pelos corredores da Câmara. "Não tenho verba, não tenho ministro. (...) Bastou ter um deputado que não era o alinhamento automático do governo que, imediatamente, apareceram R$ 500 milhões de emendas. Com um presidente independente, aparecerão mais R$ 500 milhões, mais R$ 500 milhões, mais milhões. Isso é muito bom!", ironizou.

Para assegurar os votos dos que sempre reclamam do rolo compressor governista, Aldo jurou independência do Planalto. "Eu sei o nome de cada um e o que cada um aqui reivindica", disse ele.