Título: Candidato ataca 'sacripantas' e relata ao plenário a traição de Renan
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2005, Nacional, p. A6

O discurso em que o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), conclamou os correligionários a não agirem como "sacripantas" e votarem em José Thomaz Nonô (PFL-AL) para presidir a Câmara atingiu em cheio o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Segundo Temer, Renan convenceu-o a ser candidato quando ele já nem queria continuar na disputa e depois trabalhou pela candidatura de Aldo Rebelo (PC do B-SP). Desde então, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) só se refere a Renan como "o senador Silvério", numa referência a Joaquim Silvério dos Reis, que traiu Tiradentes. Ao plenário, Temer contou que Renan não só declarou voto, como ofereceu-lhe um almoço quarta-feira da semana passada, para dar impulso à candidatura. Relatou o apoio recebido do "estadista" José Sarney (PMDB-AP), em telefonema feito pelo próprio Renan. A amigos ausentes do almoço, falou ainda do apoio explícito da anfitriã Verônica Calheiros, que lhe teria confidenciado que não suporta "a Chica", conterrânea de Alagoas casada com o pefelista Nonô. "Se ele (Nonô) ganhar a eleição eu mudo daqui porque não vou suportar aquela mulher na casa vizinha", teria dito Verônica a Temer, referindo-se à residência oficial da presidência da Câmara, localizada poucos metros acima da do presidente do Senado.

CONVERSA

Renan alegou que a candidatura Temer não decolou por falta de apoio do PSDB, sempre tão próximo à ala que faz oposição ao governo. A dirigentes do partido, contou que a situação ficou ainda mais difícil quando foi chamado ao Planalto para uma conversa com o presidente Lula na mesma quarta-feira do almoço com Temer.

Lula deixou claro que não queria um presidente da Câmara acumulando a presidência do PMDB em ano eleitoral, mas governistas e rebeldes disseram que este obstáculo seria facilmente transposto. Aí veio outra dificuldade, com o veto explícito do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que também participara da conversa. O Planalto acusa Temer de não ser "de confiança", por acenar com o apoio fechado do partido, que nunca veio, apesar do segundo ministério. Como a notícia do veto vazou, as duas alas começaram a troca de farpas públicas e Renan e Temer brigaram, sem nunca falar do assunto.