Título: Temer desiste e põe fogo na luta interna do PMDB
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2005, Nacional, p. A6

Ao renunciar à candidatura à presidência da Câmara o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), fez mais do que garantir a passagem do pefelista José Thomaz Nonô (AL) para o segundo turno. Acabou lavando em público a roupa suja do partido e antecipando o debate da sucessão presidencial. Seu discurso expôs o velho racha entre a ala rebelde, liderada por ele, e a governista, comandada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que o abandonou para aderir ao candidato do Planalto, Aldo Rebelo (PC do B-SP). "Este episódio deixa seqüelas e agrava a luta interna, porque o Michel foi vítima de traição com uma armadilha, o que é um agravante", avalia o deputado Moreira Franco (RJ). Defensor intransigente da candidatura própria, Moreira diz que Renan trocou Temer por Aldo de olho na vaga de vice do presidente Lula na chapa da reeleição.

Mas Temer deu o troco: ao desistir da disputa e defender o voto em Nonô ajudou a definir o empate no primeiro turno. Antes da votação, deputados ligados a Aldo calculavam uma diferença de 30 a 40 votos.

A interferência do Planalto na disputa, avalia Temer, agravará seu já difícil relacionamento com o PMDB, aumentando a má vontade dos deputados. "O governo sabe que o partido tem responsabilidade com o País e vem a público fazer campanha contra seu presidente", reclamou, inconformado com o Planalto instigar os ministros peemedebistas a trabalhar contra ele. "O comportamento de Renan e do governo cristalizaram a divisão, mas não sou irresponsável e não vou me retirar da tese da governabilidade."

No seu discurso, Temer comentou a mudança de voto de Renan. Não falou em traição, mas em "um caso concreto da palavra dita e da ação que a desmente". Contou que Renan participou da articulação da candidatura na quarta-feira da semana passada e no mesmo dia, à noite, "o eminentíssimo, exatíssimo, excelentíssimo, extraordinário presidente" começava a articular "em outra direção".

Para acusar Renan de cometer "falta de decoro e crime de prevaricação", ele recorreu ao blog do jornalista Jorge Bastos Moreno, do Globo. Disse que as palavras não eram dele e sim do "grande jornalista", para quem Renan perdeu a autoridade para conduzir qualquer reforma política que trate de fidelidade partidária. "Meus amigos, tenho a mais absoluta convicção de que, em política, muitas vezes, há esperteza ou um confronto partidário, pessoal, mas tudo tem um limite, que é a ética", criticou Temer. Sob aplausos insistentes do plenário, emendou frisando que ele pode tratar da fidelidade partidária, mas "outros tantos dão o mau exemplo da chamada incorreção política e nos desmoralizam perante a opinião pública".