Título: Liberar verba é 'ato ordinário, cotidiano', diz Aldo
Autor: Luciana Nunes Leal e João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2005, Nacional, p. A8

Na primeira entrevista depois de eleito presidente da Câmara, o deputado Aldo Rebelo disse que a liberação de verbas para emendas dos parlamentares é 'um ato ordinário, cotidiano, repetitivo'. 'Não se pode dizer que caracterize interferência (do governo na eleição da Câmara)', afirmou o deputado. Sobre a presença de ministros na Câmara, ao longo do dia, Aldo Rebelo disse que é possível que tenham ido por iniciativa própria. 'É preciso esclarecer se o governo os mandou ou se vieram por conta própria. Aqui entram várias pessoas todos os dias.' Aldo disse ter consciência de que nem todos os deputados da base aliada votaram nele. 'Aritmeticamente a base do governo tem 300 deputados e eu tive 258 votos. Então, alguns deputados da base votaram em outro candidato', afirmou.

A reforma eleitoral será a prioridade deste início da administração, anunciou Aldo. Disse que fará hoje uma consulta aos líderes partidários para liberar a pauta, obstruída por cinco medidas provisórias. O deputado disse ainda que a recuperação da credibilidade da Câmara, depois de tantas denúncias de corrupção, 'não vai nascer de um passe de mágica'.

Aldo disse ser 'pessoalmente' contra a proposta de elevar salários dos deputados, equiparando-os aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

No primeiro discurso depois da vitória, Aldo falou em independência da Câmara. 'Esta Casa é uma instituição livre, um espaço independente', discursou. O deputado acompanhou a contagem dos últimos 160 votos sentado em uma cadeira do plenário.

Tenso, chegou a rir em alguns momentos em que a vantagem sobre José Thomaz Nonô (PFL-PE) ficou muito apertada. 'Vou ter um enfarte', reclamava o prefeito de Nova Iguaçu (RJ), deputado licenciado Lindberg Farias, que já foi do PC do B de Aldo e hoje está no PT.

'Os petistas voltaram aos velhos tempos, nunca mais eles tinham rido como hoje', ironizou o deputado João Caldas (PLAL) depois de cumprimentar o novo presidente.

Aldo considerou irrelevante o fato de ter sido testemunha de defesa do deputado José Dirceu (PT-SP) no processo a que o petista responde no Conselho de Ética, lembrando que a decisão sobre punição de Dirceu e de outros deputados investigados é uma atribuição 'da corregedoria e do conselho' e, depois, do plenário da Câmara. 'A presidência da Câmara e a Mesa Diretora têm pouca interferência', afirmou.

Em seu primeiro discurso, Aldo também prometeu se empenhar para que os deputados recuperem seu ritmo de trabalho, comprometido nos últimos meses pela crise do mensalão. 'A Câmara, superando sua capacidade de iniciativas, vai cumprir uma agenda que contemple as necessidades do povo brasileiro', disse ele, já instalado na posição central da mesa que domina o plenário da Câmara.

Aldo discursou ao lado do mulher Rita e do filho Pedro - e afirmou que, em circunstâncias normais, os dois já deveriam estar dormindo. O relógio do plenário marcava 21h21. Ainda no meio de seu breve discurso, Aldo chamou para compor a mesa o vice-presidente Nonô, a quem derrotara minutos antes. Também chamou o segundo-vice, Ciro Nogueira (PP-PI), que disputou o primeiro turno da eleição, e o quarto-secretário, João Caldas, que renunciou à candidatura na última hora.

A Câmara, anunciou Aldo, será dirigida de forma colegiada pelos líderes e, principalmente, pelo conjunto dos deputados. Afirmou que, sob seu comando, a Casa agirá com independência em relação ao governo.

Foi resposta às acusações da oposição de Aldo vai encarnar um comando chapa branca. Aldo disse que o Brasil tem experiência civilizatória única no planeta, que é a convivência inter-racial, um povo capaz de exercer como ninguém a tolerância.

'Mas o Brasil é também o País das desigualdades e das injustiças', lembrou. Ele prometeu que sua administração será marcada pela luta para fazer do Brasil uma sociedade mais justa, democrática e mais igual.