Título: Brasil despenca em competitividade
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

O ambiente político levou o Brasil a despencar oito posições no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial, publicado ontem na Suíça. A percepção de empresários em relação à competitividade do País foi duramente afetada e a economia brasileira passou da 57ª para a 65ª posição entre 117 países avaliados. Para Augusto Lopez-Claros, economista-chefe do Fórum Econômico Mundial, se a corrupção ainda não afetou a economia brasileira, "a percepção dos empresários é o primeiro passo " para que isso ocorra.

O levantamento foi feito com empresas e concluído em maio, quando as investigações sobre a corrupção estavam no início. Para analistas, isso significa que o País poderá cair mais na classificação em 2006, quando os escândalos do mensalão forem considerados.

"A pesquisa não é sobre a percepção dos eventos da semana anterior, mas sobre a operação do sistema judicial, a honestidade dos políticos e dos membros do setor público. A pergunta não se refere ao chefe de Estado, mas é um fato que a comunidade empresarial notou a deterioração no entorno institucional entre 2004 e 2005" , disse o economista.

As dúvidas quanto às instituições públicas e o favorecimento de funcionários do governo foram os principais motivos do desempenho do País. A confiança do empresariado também foi afetada com o enfraquecimento da coalizão que governa o País. "As notícias sobre os escândalos azedaram o clima", afirmou Lopez-Claros.

A liderança mundial no ranking é da Finlândia. Mas Namíbia, Costa Rica, Colômbia, Uruguai, Tunísia ou Botsuana, por exemplo, estão em melhores posições que o Brasil. A queda registrada ainda deve ser considerada com a inclusão de novos países não avaliados em 2004. Três deles - Catar, Kuwait e Casaquistão - foram incorporados neste ano e aparecem à frente do Brasil. Ainda assim, a queda do Brasil foi uma das mais fortes entre os 117 países.

"O nosso índice mostra uma piora no ânimo da comunidade empresarial nos últimos seis meses, refletindo a preocupação com a falta de níveis adequados de transparência do setor público. Esses indicadores, que medem, por exemplo, a imparcialidade de servidores públicos quando interagem com o setor privado, a eficiência de gastos públicos e aspectos de qualidade do ambiente jurídico, caíram muito em 2005", disse ele.

Segundo o Fórum, os escândalos de corrupção atingiram a imagem do setor público e tiveram um efeito duplo: afetaram a confiança dos empresários e "desviaram a atenção dos legisladores de tarefas importantes na preparação da economia para os desafios da concorrência internacional ".

O ranking indica que a maior queda ocorreu na qualidade das instituições públicas. Nesse índice, o Brasil despencou 20 posições, para a 70 ª, superado pelo Malawi, Azerbaijão e Peru. A ineficiência do governo ainda é tida como um dos principais obstáculos para os negócios no País.

Quanto ao uso de recursos públicos, o País ocupa uma das últimas posições, a 111ª. E está na 62ª em relação à corrupção e na 69ª quanto ao favorecimento em decisões do governo.