Título: Relatório do BC destaca queda da inflação para menos de 5,1%
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2005, Economia & Negócios, p. B5

O relatório de inflação do terceiro trimestre, que será divulgado hoje pelo Banco Central (BC), terá um significado especial para os diretores da instituição. Depois das críticas generalizadas à atuação do BC por causa do longo período de juros altos iniciados em setembro do ano passado, o documento vai enfatizar que as projeções de inflação para o ano estão inferiores à meta do Comitê de Política Monetária (Copom) para 2005, de 5,1%. No último relatório, em junho, as estimativas do Banco Central para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2005 tinham subido de 5,5% para 5,8%. A informação de que a estimativa de inflação já está abaixo da meta foi antecipada na ata da última reunião do Copom, que, no entanto, não adiantou números. Além das novas projeções, o relatório vai trazer uma ampla avaliação do comportamento da economia brasileira depois do ciclo de alta dos juros.

"Esse relatório tem importância crucial porque vai trazer um quadro favorável para a inflação e a economia", disse ao Estado uma fonte da equipe econômica.

Os analistas do mercado financeiro esperam encontrar no relatório sinais adicionais para balizar as suas estimativas sobre o tamanho do próximo corte da taxa Selic. Como a maioria deles espera um corte de 0,50 ponto porcentual, a expectativa é que as projeções do Banco Central possam ajudar a confirmar essa aposta.

Para o gerente de política monetária do Itaú, Joel Bogdanski, o relatório deve apontar uma projeção do IPCA deste ano próxima 5% e para 2006 em torno de 3,5%, bem abaixo da meta de 4,.5% do próximo ano.

APERTO EXAGERADO

Segundo Bogdanski, a queda da inflação foi favorecida muito mais pelo choque da oferta de alimentos nos preços do que pela política monetária do Banco Central.

"Tivemos quatro meses seguidos, entre junho e setembro, de queda no preços de alimentos, um grupo com peso de 17% no IPCA", disse Bogdanski. O mercado espera encontrar no relatório uma análise detalhada do BC sobre o choque positivo da oferta agrícola. "O Banco Central apertou mais do que poderia", disse o economista do Itaú, referindo-se à política de juros altos.

Para o consultor Amir Kahir, as comemorações do sucesso da política monetária no controle da inflação devem ser vistas com cautela. Na avaliação dele, ao contrário do que diz o Banco Central, a taxa Selic elevada tem causado inflação. "Devido ao seu elevado nível, a Selic reprime mais a oferta do que a demanda, ao desestimular o investimento produtivo", argumentou.

Além disso, a Selic não consegue reprimir a demanda pelo fato de o mercado estar oferecendo crédito mais barato, como os feitos em consignação com desconto em folha.

Segundo Kahir, o que está segurando a inflação no Brasil é a globalização e o fato de haver no mercado internacional produtos com preços estáveis. "A economia globalizada exerce controle sobre o processo inflacionário em todos os países." Por isso, ele defende a redução de alíquotas de importação para setores formadores de preços nas cadeias produtivas.