Título: Bancários fazem greve de advertência
Autor: Paulo Baraldi
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2005, Economia & Negócios, p. B8

Os bancários fizeram ontem uma demonstração de estarem preparados para iniciar a greve marcada para 6 de outubro. Em protesto contra as propostas salariais oferecidas pelos banqueiros, a categoria paralisou as atividades, por um dia, em 19 Estados e no Distrito Federal, segundo a Confederação Nacional dos Bancários (CNB). De acordo com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), 3% das 17.482 agências do País foram fechadas. Só na capital carioca, a paralisação continua hoje. O presidente da CNB, Vagner Freitas, garante a greve caso os banqueiros não apresentem outra proposta. A Fenaban ofereceu 4% de reajuste para salários, pisos e demais verbas, abono de R$ 1 mil e Participação nos Lucros e Resultados (PRL) de 80% do salário e valor fixo de R$ 733. Os trabalhadores reivindicam reajuste de 11,77%, PRL de um salário mais R$ 788 acrescidos de 5% do lucro líquido, entre outros 100 itens econômicos e sociais.

"Foi um exercício de aquecimento para mostrar a indignação com a proposta da federação, que se mostra não estar preocupada com os clientes e os bancários", disse Freitas. "Tenho certeza de que haverá greve caso não seja feita outra proposta."

Enquanto isso, a Fenaban também aguarda proposta da CNB. "O processo negocial está em andamento, a bola está com eles", tem afirmado Magnus Apostólico, diretor de Relações Trabalhistas da federação. No sábado, haverá um encontro nacional de dirigentes dos sindicatos da categoria para decidir a greve a partir do dia 6.

FECHADO

Quem deixou para usar o serviços bancários no centro de algumas capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, se viu em desespero. A atendente Maria Ângela da Silva precisava pagar uma conta e só procurou uma agência dez minutos antes do fechamento. "Algum lugar que não esteja em greve, pelo amor de Deus", disse Maria aos sindicalistas que faziam piquetes na Rua Boa Vista, centro de São Paulo, onde há agências de sete bancos. "Todos os bancos estão fechados e a conta é do meu noivo", afirmou.

A professora Silvia Inês Musto se revoltou. "Tudo acontece por causa desse governo. Pelo menos o caixa eletrônico poderia funcionar." Em alguns bancos, os caixas ficam dentro das agências e também estavam inacessíveis. Os bancários bloquearam as entradas com faixas e adesivos.

Em São Paulo, Osasco e região cerca de 20 mil trabalhadores pararam, conforme o sindicato da categoria. Em algumas regiões, a manifestação foi proibida pela Justiça. "Isso não vai conter nossa greve, não dá para dizer que é indiferente, mas não nos dobramos à repressão. Vamos suprir esses obstáculos com a vontade dos bancários", ressaltou Freitas, em resposta à proibição.

No ano passado, os bancários pararam por 30 dias e conseguiram reajuste salarial que variou entre 8,5% e 12,77%.