Título: Gripe aviária poderá matar até 7,4 mi
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Vida&, p. A38

Alerta é da OMS, mas coordenador da ONU para o combate à doença afirmou que até 150 milhões de pessoas poderão morrer

A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um novo alerta ontem: até 7,4 milhões de pessoas poderão morrer vítimas de uma possível epidemia de gripe aviária. A OMS explicou que de 2 milhões e 7,4 milhões de mortes era uma previsão razoável para uma pandemia mundial da doença. "Utilizamos esses números para o pior cenário", disse o porta-voz da entidade, Dick Thompson."Não saberemos o alcance de uma pandemia desse tipo até que se desencadeie." Houve, contudo, confusão no número de possíveis mortes. A OMS se apressou a divulgar seus previsões pouco depois de o médico britânico David Nabarro, nomeado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como coordenador dos esforços de combate à doença, ter afirmado que até 150 milhões de pessoas poderiam morrer por causa de uma epidemia. Segundo ele, as chances de o vírus que vem atingindo aves na Ásia sofrer uma mutação e passar para seres humanos "são muito altas".

Segundo Nabarro, que foi assessor da OMS, "há qualquer momento pode haver uma epidemia de gripe". Por isso, ele pediu que a ONU e os governos estejam preparados para evitá-la e reagir caso a doença se instale.

PLANO ASIÁTICO

Antes que se torne uma pandemia, os países do Sudeste Asiático, mais China, Coréia do Sul e Japão já aprovaram um plano para coordenar a luta contra a gripe aviária na região, de controle e erradicação. Os ministros da Agricultura da Associação de Países do Sudeste Asiático (Asean) - formada por Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Cingapura, Tailândia e Vietnã - mais os dos outros três países, reuniram-se ontem em Tagaytay, ao sul de Manila, capital das Filipinas.

O ministro do Desenvolvimento Nacional de Cingapura, Mah Bow Tan, explicou que o programa foi criado para complementar a luta que já existe e não para substituir esses esforços. O comunicado final da sessão reconhece que a gripe aviária "se transformou em um problema sério que requer um esforço regional completo e coordenado".

Por conta da seriedade do problema, os ministros e vice-ministros ordenaram à Brigada de Ação contra a Gripe Aviária da Asean que trabalhe em colaboração com a OMS, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e o Escritório Internacional de Epizootias (OIE) ou a Organização Mundial da Saúde Animal.

O plano geral "cobre oito áreas estratégicas por um período de três anos, de 2006 a 2008, para prevenir, controlar e erradicar a doença". Cingapura se encarregará da troca de informação; Filipinas, da área de informação pública; Indonésia, Tailândia e Malásia, de outras áreas.

FINANCIAMENTO

A equipe encarregada de combater a gripe aviária deverá também "formular planos de ação detalhados e identificar fontes potenciais de financiamento". Contudo, nem a Asean nem China, Coréia do Sul e Japão estabeleceram a quantia necessária para o financiamento.

O ministro da Agricultura das Filipinas, Domingo Panganiban, informou que seu país dispõe de U$ 4,4 milhões para combater a doença. Ele disse que a quantia é dedicada à prevenção, já que seu país eliminou a doença, pelo menos por enquanto. Assim, deu a entender que nações como Indonésia, Vietnã, Tailândia ou Malásia devem, em teoria, gastar mais.

O plano de ação mundial elaborado pela FAO e a OIE requer US$ 102 milhões. O subsecretário da Asean, Wilfrido Villacorta, afirmou que cada nação contribuirá com o que puder e serão buscados fundos no exterior.

De acordo com a OMS, a epidemia ainda "causaria enormes danos econômicos e sociais no mundo todo". A organização explicou que não quer gerar alarme, mas sim alertar os países para que se previnam diante da possibilidade de uma epidemia.

AS GRIPES

O surto atual de gripe aviária apareceu na Coréia do Sul no fim de 2003. Desde então, 41 pessoas morreram no Vietnã, 12 na Tailândia, 4 no Camboja e 3 na Indonésia, de acordo com a OMS.

A cepa da gripe aviária, denominada H5N1, é encontrada entre diversos modelos de aves, sobretudo na Ásia.

A presença do vírus forçou o sacrifício de milhões de aves para evitar o contágio no homem, já que a maior parte dos casos detectados em pessoas se dava entre os que tinham contato com os animais. A OMS já advertiu sobre a possibilidade de ocorrer uma mutação do vírus que permitisse o contágio entre humanos.

Thompson lembrou ontem que o mundo sofreu várias devastadoras epidemias de gripe no último século, como a de 1918, que começou nos EUA e atingiu 40 milhões de pessoas no mundo, assim como as de 1957 e 1969, que tiveram conseqüências calamitosas e em razão das quais chegaram a morrer até 5 milhões de pessoas.