Título: Paciente que recebeu implante de células-tronco caminha sozinho
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Vida&, p. A38

Há 4 meses, era de 90% a chance de agente tributário ter a perna amputada

Quatro meses após ser submetido ao primeiro implante de células-tronco para tratamento de trombose no País, o agente tributário Ramão Torres Martins, de 49 anos, começou a dar os primeiros passos sozinho, sem qualquer ajuda. É algo que ele não fazia desde julho de 2004, quando descobriu que poderia perder a perna direita, atingida por trombose arterial. Em 11 de maio deste ano, Martins recebeu o implante no Instituto de Moléstias Cardiovasculares (IMC), de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Quando chegou ao IMC, numa cadeira de rodas, tinha 90% de chances de perder a perna; em julho, passou a usar muletas. Agora já anda alguns passos sem a ajuda da bengala, que começou a usar há 15 dias.

"Ando um pouco sem a bengala, mas não quero forçar a barra", diz. "Mais alguns meses e estou certo de que estarei totalmente recuperado." A avaliação final da cirurgia está marcada para novembro, quando uma arteriografia dará a palavra final. Por enquanto, Martins faz exercícios para recuperação da massa muscular em sua casa, em Campo Grande (MS), e espera a cicatrização completa de um dedo extraído do pé direito.

"A cirurgia foi um grande sucesso", afirma o cirurgião José Dalmo Araújo, autor do implante. Comedido nas declarações desde a realização do implante, Araújo ainda luta pelo reconhecimento oficial da cirurgia, que foi feita sem o parecer final do Conselho Nacional de Ética em Pesquisas (Conep), órgão regulador de cirurgias experimentais no País.

"Não havia como esperar, o paciente ia perder a perna", afirma Araújo. Apesar de aprovada na comissão de ética local, o Conep ainda não deu o parecer final. A cirurgia foi a primeira realizada fora do Japão e da China.

"A cirurgia me devolveu as esperanças e me fez voltar a acreditar na vida. Foi a salvação para uma pessoa que não acreditava mais que pudesse voltar a caminhar, como estou fazendo agora", afirma Martins, emocionado.

Outras quatro pessoas que pretendem ser submetidas ao implante aguardam na fila do IMC a aprovação dos protocolos pelo Conep. Apesar da recuperação de Martins, especialistas alertam que todas as aplicações terapêuticas de células-tronco ainda são altamente experimentais. Os resultados precisam ser publicados e confirmados por outros cientistas para que sejam validados.