Título: Trocas podem passar de 260, mas não mudam forças na Câmara
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Nacional, p. A4

Vence hoje o prazo para que os políticos interessados em disputar as eleições do ano que vem troquem de partido. No Congresso, os últimos dias foram de intensa movimentação e registraram uma mudança de perfil na base aliada do Palácio do Planalto. Da posse dos deputados, em fevereiro de 2003, até ontem, a Câmara havia registrado mais de 260 trocas de partido. Alguns partidos inflados no início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva perderam filiados. Outros, esvaziados pela movimentação estimulada pelo então ministro José Dirceu, conseguiram recuperar suas forças. O PL, por exemplo, elegeu 33 deputados, chegou a contar com 52 e agora tem 39. Já o PSB elegeu 22 deputados, caiu para 16 e agora tem 29. Os números indicam que, de olho na campanha da reeleição, Lula promove uma mudança na composição de seus aliados.

O PMDB se tornou a maior bancada da Câmara, com 85 integrantes até ontem e o sonho de crescer ainda mais nas últimas horas antes do fim do prazo de mudança. O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, cumpriu a promessa e filiou-se à legenda, levando consigo mais de 20 prefeitos. Conseguiu ainda impedir a saída do deputado Jair de Oliveira, cortejado pelo PSC.

Abalado pelo escândalo do mensalão, o PT perdeu força. Em 2002, o partido de Lula conseguiu eleger a maior bancada da Câmara, com 91 integrantes. Hoje, depois de perder deputados principalmente para o PSOL da senadora Heloísa Helena (AL), ficou com 83.

Por incrível que pareça, essa mudança toda não mexeu com o equilíbrio de forças entre governo e oposição. É que, em geral, as migrações ocorrem de um partido para outro no mesmo grupo. Hoje, os partidos do governo - PT, PSB, PMDB, PP, PTB, PL e PSC - têm 352 deputados, contra 370 na posse. PDT, PPS e PV eram aliados na posse. Mudaram para a oposição, que hoje tem 161 deputados, contando PFL e PSDB.

Os números favoráveis, porém, não representam nenhum alívio para o Planalto, porque pelo menos dois grandes partidos, PMDB e PP, sempre votam rachados. Mas o governo ganhou alguns votinhos no PDT. O partido pulou de 14 para 19 deputados, mas vários deles, como Miro Teixeira (RJ), são aliados do presidente Lula.

Dirigentes lamentam o troca-troca que ocorre todo ano anterior a uma eleição. "Sem fidelidade partidária nunca vamos acabar com essa correria, essa cooptação", diz o senador Jorge Bornhausen (SC), presidente do PFL.

QUATRO ANOS

Bornhausen lembra que em 2001 o Senado aprovou projeto que faria a fidelidade partidária pela filiação, pois obrigaria o interessado em disputar a eleição a filiar-se quatro anos antes. "Lamentavelmente a Câmara nunca votou esse projeto, como não votou o que acabava com a coligação nas eleições proporcionais, o que institui o financiamento público de campanha e o das listas".

Para o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), o que deve acabar é o prazo para que uma pessoa se filie a um partido. Cada partido é que estipularia o tempo necessário. "É uma questão exclusiva dos partidos. Não é um assunto de Estado. Essa correria que se verifica agora acabaria se não tivéssemos prazo nenhum."