Título: Novo partido aumenta o caos
Autor: Expedito Filho e Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Nacional, p. A4

O mau exemplo vem de cima e foi oferecido pelo vice-presidente da República, José Alencar, na sua badalada filiação ao Partido Municipalista Renovador (PMR), a nova legenda disponível para alugar nas prateleiras do sistema partidário do País. A contribuição de Alencar ao aumento da balbúrdia política é para lá de evidente. Ele se elegeu senador pelo PMDB, mudou para o PL, para compor a chapa presidencial do PT, e, três anos depois de iniciar essa trajetória, matriculou-se no PMR que vai se tornar PR, de Partido Republicano, porque, mal foi criado pelos bispos da Igreja Universal do Reino de Deus, o partido já está descontente com o próprio nome. A crítica mais veemente que se fazia ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cingia-se ao que teria sido "o erro original" de seu governo - daí derivaria o fracasso do seu segundo mandato - por não ter promovido na primeira hora uma reforma política ampla e profunda. A esquerda petista indicava, por isso mesmo, que esta seria "a mãe de todas as reformas" do programa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na realidade, o PT não somente descumpriu o prometido, mas contribuiu para enfraquecer moralmente e aumentar a ambigüidade geral do sistema eleitoral e partidário. Por ter repetido o pecado que acusava em FHC, a representação congressual tende a continuar fragmentada e a exigir composições de maiorias governistas altamente custosas para o erário. As decisões de maiorias construídas na base da barganha são sempre volúveis e ambíguas, iguais a ela, e aumentam a desconfiança sobre a efetividade das leis produzidas por esse sistema para tornar mais saudável o ambiente de negócios. O impressionante é que a situação poderá piorar. Para isso, bastará que o governo mobilize as forças que elegeram o novo presidente da Câmara, Aldo Rebelo, e aprove a emenda constitucional que reabre o prazo para mudanças na legislação eleitoral. O Planalto poderá até contar com bancadas da oposição como as do PDT, PPS e PV, legendas que, como o PMR de Alencar e o PCdoB de Rebelo, só terão vida no Congresso se alcançarem 5% dos votos nacionais. Essa é a cláusula de barreira aprovada há 11 anos e que será implementada nas eleições parlamentares de 2006. A preservação dessa única regrinha reduzirá dos 17 partidos eleitos em 2002 para 5 ou 6 legendas ativas na Câmara.