Título: Um partido para abrigar de tudo um pouco
Autor: Expedito Filho e Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Nacional, p. A4

O novo partido do vice-presidente da República, José Alencar, reúne políticos cuja afinidade parece ser difícil de encontrar. Empresário de fervor católico, Alencar se filiou ao Partido Municipalista Renovador (PMR), legenda patrocinada pela Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo. O vice-presidente continua correligionário do político de maior projeção da Universal, o senador Marcelo Crivella (RJ), que também trocou o PL pelo PMR. A sigla agregou ainda o intelectual Mangabeira Unger, professor de Harvard que sonha em chegar à Presidência, e o ex-ministro Raphael de Almeida Magalhães, que comandou a Previdência durante o governo Sarney. Em seu blog, o prefeito do Rio, César Maia (PFL), definiu a mistura como "o gospel do crioulo doido".

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que Alencar e Mangabeira querem esvaziar a candidatura do ex-governador Anthony Garotinho (PMDB) para criar condições de reeleição do presidente Lula. Segundo o tucano, o PMR, embrião de um futuro Partido Republicano (PR), repete a gênese do velho PRN de Fernando Collor. A legenda de aluguel, feita sob encomenda para disputa eleitoral, guindou Collor até o Planalto, baseada na idéia simplória de acabar com inflação e corrupção com único golpe. "O Mangabeira entra com a densidade intelectual, Alencar oferece a ira contra os juros e a Igreja, a base religiosa."

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) também acredita que se trata de uma manobra do Palácio do Planalto para esvaziar uma eventual candidatura evangélica de Garotinho. A mistura entre intelectuais e bispos também causou estranheza no deputado. "Eu não entendo os caminhos do aventureiro do bem Mangabeira Unger . Ele passou a ser um bem-aventurado. Tudo que ele escreveu em português eu entendi. Mas essa ida para esse partido ele vai ter que traduzir", ironizou.

Para o prefeito do Rio, César Maia, o tabuleiro político com o ingresso do atrasado PMR revela cenários repletos de alternativas para o vice-presidente. Na primeira hipótese, "se Mangabeira tiver compromisso do PMR para ser candidato a presidente, é porque Alencar já está antecipando um final triste para Lula e se posiciona em oposição futura". Mas ele ressalva que como Minas foi ocupada pela aliança PSDB-Itamar Franco-PFL, o vice precisaria aguardar na defensiva.

Na segunda hipótese, construída pelo prefeito, poderá não haver acordo com Mangabeira e Alencar se posicionaria em um partido que terá fortíssimo candidato a governador do Estado do Rio e um número de deputados superior ao do PSOL. "Se Lula desmanchar, ele pode construir coligação com partido médio (note que o PL não brigou com ele quando saiu) e fechar acordo com a Universal, que lhe abriria a rede de TV e rádios."