Título: Lula entra em campo e segura Delcídio e Meirelles
Autor: Cida FontesJoão Unes
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Nacional, p. A6

Já pensando nos palanques de 2006 e em sua reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em cena para evitar mudanças partidárias que poderiam afetar sua equipe de governo. Atendendo a apelos de Lula, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, enterrou o sonho de disputar o governo de Goiás e, mesmo depois de muitas rodadas de conversas, deixou o PTB na mão. Outro que acatou as ponderações do presidente foi o líder do PT no Senado e presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (MS), que desistiu de sair do partido para disputar o governo de Mato Grosso do Sul pelo PSDB. Para manter Delcídio no PT e garantir sua candidatura a governador, Lula se comprometeu a conversar com o governador Zeca do PT pessoalmente para acertar o esquema eleitoral de 2006. A relação entre Zeca e Delcídio se deteriorou quando o governador iniciou uma negociação com o ex-prefeito de Campo Grande André Puccinelli (PMDB) para se eleger ao Senado com seu apoio. Por outro lado, excluiu o senador da chapa ao governo do Estado.

Meirelles, por seu lado, passou as últimas 48 horas entre as pressões dos ministros do Turismo, Walfrido Mares Guia, e da Fazenda, Antonio Palocci. Mares Guia, do PTB, se reuniu com Meirelles na noite de quinta-feira e tentou levá-lo para o PTB. Já Palocci, a pedido de Lula, reforçou ontem o apelo para que ficasse no cargo, alegando que a situação política do País ainda é instável e sua filiação poderia levá-lo a sair da equipe, com o risco de provocar turbulências na economia. Lula manifestou a Meirelles sua preocupação com as acusações pendentes na Justiça, já que ele responde a processo no Supremo Tribunal Federal (STF).

PMDB

O PTB ofereceu a Meirelles o que ele queria: a vaga para disputar o governo estadual em uma composição com PSDB e outros partidos. O governador Marconi Perillo (PSDB), que já é coligado com o PTB, concorreria ao Senado. Seria uma chapa competitiva, mas poderia causar danos ao PMDB, que pretende retornar ao poder estadual com o senador Maguito Vilela.

Lula foi claro: não quer problemas com o PMDB, pois pretende contar com o partido nas eleições de 2006. Uma de suas preocupações é com a possibilidade de o Congresso não derrubar a verticalização, instrumento que obriga os partidos a reproduzirem nos Estados a coligação feita no âmbito nacional.

Sem a verticalização, Lula poderia arregimentar apoio do PMDB, que pretende ter candidatos fortes em 17 Estados, mesmo que o grupo de oposição ao governo lance candidato próprio a presidente da República.

Por isso, agora que conseguiu retomar a Câmara com a eleição do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) para sua presidência, Lula pretende investir pessoalmente na montagem dos palanques para as eleições. De olho na sua reeleição, ele tem dito a interlocutores que quer candidatos fortes aos governos estaduais para reforçar seu esquema de sustentação.